Quinta-feira, 12 de junho de 2025
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Em uma de suas habituais reflexões, o ex-presidente cubano Fidel Castro acusou o presidente norte-americano, Barack Obama, de “mal interpretar” as palavras de seu irmão, Raúl, atualmente à frente dos destinos de Cuba. Segundo Fidel, Raúl nunca se comprometeu a iniciar um diálogo com os Estados Unidos, como deu a entender em um discurso na semana passada, no encerramento da reunião da Alba (Alternativa Bolivariana das Américas), mas sim, estava apenas explicando o argumento “revolucionário” de que Cuba não tem medo de discutir nenhum assunto com seu vizinho do norte.

“Dizer que o presidente cubano está disposto a discutir qualquer assunto com o presidente dos Estados Unidos, significa que não temos medo de abordar todo tipo de assunto. É um exemplo de valentia e confiança nos princípios da revolução”, escreveu Fidel em artigo revelado terça-feira (21) de madrugada, no site Cubadebate.

O líder cubano, também rechaçou a ideia de que Cuba procura promover uma troca entre os cinco cubanos presos nos Estados Unidos, condenados por espionagem, e os cerca de 50 presos políticos, detidos na primavera de 2003 – um movimento que Raúl Castro também mencionou em discurso na reunião da Alba.

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“Ninguém deve se espantar que [Raúl] tenha mencionado a anistia aos presos de março de 2003 e a intenção de mandá-los para os Estados Unidos, se esse país estivesse disposto a libertar os cinco heróis antiterroristas cubanos. Tal como já aconteceu com os mercenários de Girón [a invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961] , eles estão ao serviço de uma potência estrangeira que ameaça e bloqueia nossa pátria”, afirmou Fidel.

Ao encerrar sua presença na Cúpula das Américas no sábado passado, Obama exortou Cuba a “dar passos”, como libertar os presos políticos, eliminar os impostos ao envio de remessas e respeitar os direitos humanos. O chamado veio depois que, na semana anterior, Obama eliminou totalmente as restrições ao envio de remessas e viagens à ilha dos cubano-americanos, implantadas por seu antecessor, George W. Bush.

Fidel, em vários comentários anteriores, não rechaçou a oferta, mas se queixou que Obama não mencionou o embargo econômico à ilha. Segundo o ex-presidente cubano, ao não fazer menção ao bloqueio e citar a necessidade de eliminar os impostos às remessas, Obama se comportou com “auto-suficiência” e rendeu-se ao conselho de “dividir os cubanos”, aparentemente proposto por seus conselheiros.

Na coletiva de encerramento da cúpula, Obama mencionou o discurso de Raúl Castro na Alba, como um exemplo de “avanço” e propôs o inicio de “uma nova etapa” no relacionamento mútuo, com a libertação dos presos.

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Reações

As primeiras reações oficiais nos Estados Unidos foram cautelosas. Em uma audiência na Câmara dos Deputados, a secretária de Estado, Hillary Clinton, ressaltou que Fidel, em seu texto, “contradiz” o irmão.

“Penso que podemos estar assistindo ao princípio de um debate dentro do governo cubano”, afirmou Hillary. De todos os modos, disse ela, a administração está “pronta” para conversar com Cuba, apesar de ser “um movimento muito difícil”.

Mas não impossível. Para Phil Peters, o vice-presidente do Lexington Institute encarregado do “programa cubano”, o mais importante é que “os dois governos estão interessados em conversar, mas Raúl foi mais explícito [que Fidel]”.

“O texto do Fidel deixa uma dúvida no ar, mas realmente não altera nada do que o Raúl disse. A questão é que não explica claramente o que é que Obama mal interpretou do discurso do Raúl”, disse Peters.

Outra leitura, acrescentaram várias fontes dentro da ilha consultadas pelo Opera Mundi, afirma que o ex-presidente cubano poderia não ter apreciado o “ambiente de euforia” com que muitos presidentes latino-americanos acolheram as palavras de Raúl e a reação de Obama. 

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Gestos bilaterais

Mas o discurso de Raul no encerramento do Alba não foi o primeiro momento de referência à possibilidade de uma troca de presos políticos cubanos pelos cinco presos nos Estados Unidos.

Em dezembro do ano passado, durante uma visita a Brasília e ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente cubano propôs a troca.

“A época dos gestos unilaterais se acabou em Cuba, tem de haver gestos bilaterais. Esses prisioneiros [políticos], querem soltá-los? Que nos avisem, que os mandamos para lá [EUA] com família e tudo. Mas que nos devolvam nossos cinco heróis”, disse Castro no Palácio do Itamaraty.

Àquela altura, o comentário não provocou nenhuma reação ou retificação em Havana. Quando assumiu o poder em fevereiro do ano passado, Raúl foi autorizado pelo parlamento cubano a consultar seu irmão a cada decisão de estado.

Segundo confirmaram ao Opera Mundi várias fontes em Washington, Obama – que em 2004, quando se candidatou ao senado federal, afirmou ser contra o embargo – nunca teve intenção de levantar a questão durante a cúpula, porque “não dispõem ainda dos votos necessários” no Congresso para conseguir avanços.

Outros obstáculos

Obama depende do Congresso para levantar o embargo, mas seu poder é suficiente para acabar com outros dois obstáculos na melhoria das relações bilaterais, que não foram lembrados por Fidel: a política de “pés secos-pés molhados”, que autoriza a devolução a Cuba dos cubanos recolhidos à deriva em alta mar, e a chamada Ata de Ajuste Cubano, que concede residência automática a todo cubano que conseguem entrar nos Estados Unidos.

A primeira foi implementada de comum acordo com as autoridades cubanas, mas é muito criticada pelos exilados. A segunda, é objeto de constantes críticas pelas autoridades da ilha. Segundo as fontes, as duas seriam implementadas antes de um eventual levantamento do embargo.

Fidel desmente oferta de diálogo de Cuba

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