Forças de paz da África Austral deixam leste do Congo após cessar-fogo
Tropas destacadas para combater grupos rebeldes estão se retirando do território dias após governo congolês e M23 concordarem trégua
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) começou a retirar suas forças de manutenção da paz do território leste do Congo nesta terça-feira (29/04) após a Ruanda concordar em dar passagem segura às tropas. A informação foi confirmada pela agência AFP. A saída deve ser concluída até o final de junho.
A primeira vez que a SADC, um bloco de 16 Estados-membros, anunciou que começaria a retirar gradualmente as tropas da sua Missão na República Democrática do Congo (SAMIDRC) foi em meados de março.
A SAMIDRC foi destacada em dezembro de 2023 para apoiar o exército congolês contra grupos rebeldes. No entanto, a missão perdeu pelo menos 20 soldados, incluindo malauianos, tanzanianos e sul-africanos, durante os recentes avanços do M23, que tem tomado, desde janeiro, diversas cidades e centros de mineração nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul. O grupo rebelde também ocupou cidades-chave, incluindo Goma e Bukavu, em meio a uma ofensiva que resultou em milhares de mortes e milhões de deslocados.
A região oriental do Congo enfrentou décadas de violência, impulsionada pelo M23 e outros grupos armados que lutam contra as autoridades locais por energia e minerais, como ouro e diamante. Por muitas vezes, o governo congolês acusou a vizinha Ruanda de apoiar os militantes.
“A presença de tropas da SAMIDRC sempre foi um fator complicador no conflito, e o início da retirada de hoje marca um passo positivo no apoio ao processo de paz em andamento”, comemorou o ministro das Relações Exteriores de Ruanda, Olivier Nduhungirehe, na plataforma X.
Segundo as estimativas das Nações Unidas (ONU), desde o início de 2025, pelo menos 8.500 pessoas, incluindo crianças e forças de paz, foram mortas em confrontos entre rebeldes e forças congolesas.

Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Acordo de cessar-fogo
O anúncio de segunda-feira foi feito após os dois lados do conflito entrarem em um acordo de cessar-fogo, por meio de negociações mediadas pelo Catar, na última sexta-feira (23/04).
“Em um espírito de entendimento mútuo e com um compromisso compartilhado de resolver o conflito por meios pacíficos, representantes da República Democrática do Congo e da AFC/M23 realizaram negociações de paz facilitadas pelo Estado do Catar”, afirmaram em comunicado conjunto o governo congolês e a Aliança Rio Congo, que inclui o M23.
Em março, o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani, convocou uma reunião com os presidentes congolês, Félix Tshisekedi, e ruandês, Paul Kagame, para discutir a situação no Congo. A reunião abriu possibilidade de negociações diretas com o M23, que culminaram em promessas para o fim das hostilidades até que um acordo pudesse ser formalizado por meio de conversas em Doha.
Posteriormente, representantes congoleses e de Ruanda se reuniram em Washington em uma reunião mediada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, para a “Declaração de Princípios para a paz no leste do Congo”.
Na cerimônia, o conselheiro sênior de Trump para a África, Massad Boulos, destacou que a declaração “compromete as partes com o reconhecimento mútuo da soberania e integridade territorial, abordando questões de segurança, promovendo a integração econômica regional, facilitando o retorno de pessoas deslocadas, apoiando a MONUSCO e elaborando um acordo de paz”.
