Os resultados preliminares das eleições estaduais na Alemanha, realizadas no último domingo (01/09), indicam que o pequeno partido de extrema-direita Freie Sachsen (Saxões Livres) obteve cerca de 52.000 votos no estado da Saxônia, no leste do país.

Com 2,2% dos votos, o partido, de menor porte e relevância, obteve um desempenho extraordinário para a sua história, e surgiram suspeitas de manipulação nas cédulas eleitorais, conforme reportagens da revista Der Spiegel e do jornal Leipziger Volkszeitung.

O caso veio à tona em Langebrück, um distrito da capital do estado, Dresden, no qual dezenas de cédulas foram encontradas com sinais de adulteração, segundo a polícia local. 

As autoridades eleitorais de Dresden informaram na última terça-feira (03/09) que o distrito eleitoral de voto por correspondência 36012 foi um dos afetados. Nele, o Saxões Livres obteve 10,2% dos votos, desempenho bem superior ao registrado em outros distritos de Dresden.

Outra irregularidade foi observada no distrito eleitoral vizinho, 36011, em que 6% das cédulas foram invalidadas, uma taxa mais alta do que em qualquer outro distrito de da cidade. Há suspeitas de que cédulas devidamente preenchidas possam ter sido invalidadas posteriormente, pela marcação de um segundo partido.

Segundo a Der Spiegel, nas outras duas maiores cidades da Saxônia, Leipzig e Chemnitz, não foram detectadas anomalias semelhantes nos resultados dos distritos eleitorais.

Mas, a polícia também descobriu cédulas falsas em dois distritos de votação por correspondência em Radeberg, nos quais a marcação original foi alterada para favorecer o Saxões Livres. Radeberg fica próximo a Langebrück, na fronteira com Dresden.

Recentemente, a polícia informou que cerca de 130 cédulas em todo o estado foram manipuladas, sendo aproximadamente 117 em Dresden e 14 em Radeberg. O Departamento Estadual de Investigação Criminal está conduzindo a investigação sob suspeita de fraude eleitoral.

O Leipziger Volkszeitung relatou que há indícios de possível fraude também nas eleições locais de junho – o mesmo partido obteve resultados surpreendentemente altos nas eleições para o concelho municipal de Dresden e o concelho local de Langebrück, o que chamou a atenção dos cientistas políticos da Universidade Técnica de Dresden (TU Dresden), uma das mais renomadas do país. A agência estadual de investigações confirmou que está ciente das suspeitas, mas elas ainda não são objeto de uma investigação formal.

Os órgãos eleitorais do estado da Saxônia estão analisando os incidentes ocorridos na eleição estadual “com relação às implicações eleitorais”. O comitê eleitoral deve decidir sobre as consequências legais no dia 13 de setembro, segundo anúncio da autoridade em Kamenz. 

Antes disso, os comitês eleitorais distritais precisarão deliberar sobre as possíveis irregularidades na condução da eleição. A cidade de Dresden informou que seu comitê eleitoral tomará uma decisão sobre o resultado da auditoria eleitoral e o número de cédulas inválidas na quinta-feira (05/09).

O Escritório Saxônico para a Proteção da Constituição classificou o Saxões Livres como uma organização de extrema-direita em 2021. Trata-se de um grupo composto por neonazistas, antigos membros do Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), atualmente conhecido como Die Heimat, e outros membros ou simpatizantes, organizados como partido.

Via canal no Telegram, o Saxões Livres negou qualquer envolvimento com a manipulação das cédulas. A Saxônia, junto com a vizinha Turíngia, ambas localizadas no antigo território da Alemanha Oriental, é uma região na qual a extrema-direita tem forte apoio eleitoral, resultado que se refletiu nas urnas no último domingo, marcando um momento sem precedentes desde o pós-Segunda Guerra.

As eleições foram marcadas por um caráter experimental nas duas regiões, e ocorreram em um ambiente particularmente tenso, pouco mais de uma semana após o triplo assassinato a facadas atribuído a um sírio em Soingen, no oeste do país, que chocou a nação e reacendeu o debate sobre imigração.