O gabinete econômico do presidente eleito de El Salvador, Mauricio Funes, nomeado na semana passada, precisa “reorientar” o atual modelo de livre mercado para que “canalize” as necessidades dos setores historicamente excluídos nesta nação centro-americana, recomendam analistas econômicos e salvadorenhos comuns.
O economista Juan Héctor Vidal aconselhou o governo de Funes a “estruturar imediatamente um plano para reativar a economia” e gerar recursos que permitam a promoção de um modelo de “desenvolvimento inclusivo”, a fim de favorecer os mais pobres.
Vidal, assessor de empresas privadas por mais de duas décadas, mas crítico do agora ex-presidente Antonio Saca (2004-2009), chamou de “equipe de luxo” os funcionários do presidente eleito, que qualificou de “honrados, conhecedores da realidade do país e responsáveis”.
Funes, da FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional), tomou posse ontem (1º) em meio a uma das mais graves crises econômicas que já afetaram El Salvador, e se tornou o primeiro chefe de Estado de esquerda da história do país.
O mandatário eleito afirmou em várias ocasiões que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo pessoal seu e de sua esposa, a brasileira Vanda Pignato, será sua “referência” para governar durante os próximos cinco anos.
Desafios
Alexander Segovia, secretário técnico de Funes, confirmou ao Opera Mundi que o novo governo herdará “um buraco fiscal de 500 milhões de dólares” e estimou que, no fim de 2009, o valor chegará a 1,2 bilhão de dólares, um terço dos 3,627 bilhões do orçamento nacional deste ano.
A atual situação econômica “será um grande desafio” para o próximo governo, reconheceu.
De acordo com Segovia, a queda de 21,4% nas exportações entre fevereiro de 2008 e fevereiro de 2009, especialmente para os Estados Unidos, contribuiu para a perda de 40 mil empregos nos últimos oito meses, a maioria no setor formal.
Isto elevou a taxa oficial de desemprego aberto de 6,7% para 8% de outubro de 2008 a abril de 2009, o que poderá criar um contingente de 50 mil novos pobres até o fim do ano, somando-se aos 2,8 milhões já existentes, explicou o economista.
Uma pesquisa realizada no final de maio pelo Instituto Universitário de Opinião Pública (Iudop) revelou que 83% dos salvadorenhos acham que o governo de Funes “deve mudar a política econômica”.
O gabinete econômico é formado por Segovia, ex-consultor internacional; Carlos Acevedo, que presidirá o Banco Central e hoje é coordenador adjunto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Carlos Cáceres, que será ministro das Finanças e é ex-diretor da Associação Bancária Salvadorenha; Héctor Dada Hirezi, que ocupará o Ministério da Economia e é ex-diretor da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais e ex-chanceler e Miguel Sevilla, que será ministro da Agricultura e Pecuária e também é funcionário do PNUD.
Várias associações empresariais também manifestaram “confiança” no próximo gabinete, formado, a seu ver, por profissionais “conscientes dos problemas econômicos que o país enfrenta”.
O presidente eleito confirmou em meados de maio que, ao assumir o cargo, apresentará um “programa integral anticrise” que permitirá “proteger os mais pobres e vulneráveis” e “incluirá políticas destinadas a remover os obstáculos estruturais que impedem o desenvolvimento humano”.
Nas ruas, Rafael González, um trabalhador de 54 anos que ganha um salário mínimo de 190 dólares por mês, afirmou que o próximo governo deveria “instaurar” mecanismos de entendimento entre empresários, governo e trabalhadores, a fim de criar uma política de salários dignos.
“Meu salário já não basta para cobrir todas as necessidades”, lamentou.
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