Fuzileiros navais chegam a Los Angeles; governador denuncia abuso de poder
Militares foram convocados pelo governo Trump para reprimir protestos pró-imigrantes na Califórnia ‘por 60 dias’, segundo secretário de Defesa
Os 700 fuzileiros navais dos Estados Unidos enviados pelo governo de Donald Trump para reprimir os protestos pró-imigrantes na Califórnia ao lado dos militares da Guarda Nacional chegaram em Los Angeles nesta terça-feira (10/06).
Os soldados foram destacados pelo governo republicano na última segunda-feira (09/06) da base do Marine Corps Air Ground Combat Center, em Twentynine Palms, na Califórnia.
Segundo uma declaração de Bryn MacDonnell, alto funcionário do Pentágono, o envio de mais de quatro mil soldados da Guarda Nacional, mais os fuzileiros navais, para Los Angeles custará U$134 milhões (cerca de R$723 milhões).
Em detalhe, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, anunciou que as tropas mobilizadas na Califórnia permanecerão em Los Angeles por 60 dias.
Segundo a declaração da autoridade do governo Trump ao comitê da Câmara dos Representantes, citada pelo jornal britânico The Guardian, a medida tem como objetivo “garantir que os manifestantes, saqueadores e bandidos que atacam nossos policiais, saibam que não iremos a lugar nenhum”.
Já Trump, questionado sobre o período em que as Forças Armadas ficarão mobilizadas no estado, respondeu: “até que não haja mais perigo”, e chamou Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, de “incompetentes”, referindo-se à intensificação dos protestos.
“Se eu não tivesse enviado tropas para Los Angeles nas últimas três noites, aquela cidade, outrora bela e grandiosa, estaria agora em chamas, com 25 mil casas queimadas até o chão por causa de um governador e prefeita incompetentes”, escreveu o presidente norte-americano na rede social Truth.
Governador denuncia maus tratos do governo Trump às tropas
Em resposta, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, declarou que tais gastos com tropas deveriam ser usados para a reconstrução de Los Angeles após os incêndios do último ano, e criticou o envio dos fuzileiros navais.
“Os fuzileiros navais dos EUA serviram com honra em diversas guerras em defesa da democracia. Eles são heróis. Não deveriam ser enviados para solo [norte-]americano enfrentando seus próprios compatriotas para realizar a fantasia insana de um presidente ditatorial”, escreveu na rede social X.

U.S. Northern Command/X
Em outra declaração, Newsom voltou a afirmar que os fuzileiros navais “não são peões políticos” e que isso “é um flagrante abuso de poder”, o qual será processado judicialmente pelo estado. “Os Tribunais e o Congresso precisam agir”, cobrou ainda.
Por isso protocolou uma moção de emergência para bloquear “o envio ilegal” dos fuzileiros navais e da Guarda Nacional para Los Angeles.
NEW: I just filed an emergency motion to block Trump’s illegal deployment of Marines and National Guard in Los Angeles.
Trump is turning the U.S. military against American citizens.
The courts must immediately block these illegal actions. pic.twitter.com/ms4JELUk3v
— Gavin Newsom (@GavinNewsom) June 10, 2025
O governador contrariou ainda uma declaração de Trump dizendo que teriam conversado pela última vez na segunda-feira (09/06). “Não houve nenhuma ligação. Nem mesmo uma mensagem de voz. Os [norte-]americanos deveriam ficar alarmados porque um presidente que envia fuzileiros navais para nossas ruas nem sabe com quem está falando”.
Newsom também denuncia que o governo Trump enviou as tropas a Los Angeles sem nenhum tipo de apoio. “Vocês enviaram suas tropas para cá sem combustível, comida, água ou um lugar para dormir.. Aqui estão eles — sendo forçados a dormir no chão, empilhados uns sobre os outros. Se alguém está tratando nossas tropas desrespeitosamente, é você Donald Trump”, afirmou.
O político democrata concluiu dizendo que a mobilização “não se trata de segurança pública”, mas sim “de alimentar o ego de um presidente perigoso”. “Isso é imprudente. Sem sentido. É desrespeitoso com nossas tropas”, concluiu.
Ilegalidade
Nos Estados Unidos, a legislação federal proíbe o uso das Forças Armadas — incluindo Exército, Marinha, Força Aérea e Fuzileiros Navais — em operações de segurança pública em solo nacional. A norma, porém, não se aplica à Guarda Nacional sob comando estadual.
No entanto, no domingo (08/06), Trump assinou uma ordem delegando ao Comando Norte das Forças Armadas dos EUA o controle das tropas da Guarda Nacional na Califórnia, com a determinação de enviar ao menos dois mil militares à região. O presidente ainda autorizou seu secretário de Defesa, Pete Hegseth, a empregar “outros membros das Forças Armadas regulares, conforme necessário”.
Newsom reagiu imediatamente, classificando na última segunda-feira (09/06) a ordem como “ilegal” e exigindo sua revogação. O governador alertou que a presença militar só agravaria as tensões e anunciou o primeiro processo da Califórnia contra o governo federal.
Durante evento na Casa Branca, Trump defendeu a intervenção ao alegar que as autoridades da Califórnia estavam “sobrecarregadas” e afirmou estar preparado para enviar ainda mais tropas. “Precisamos garantir que haverá lei e ordem”, declarou.
Ainda no mesmo dia, o presidente sugeriu a possibilidade de prender Newsom por sua atuação na crise. Ao ser instado a explicar a acusação, Trump disparou: “o crime dele é concorrer ao governo, porque ele está fazendo um trabalho péssimo”.
Os protestos contra as medidas federais que afetam milhares de imigrantes no país começaram em Los Angeles na última sexta-feira (06/06) e na segunda-feira (09/06) se espalharam por outras cidades norte-americanas, como Atlanta, Seattle, Dallas, Louisville, Nova York, e São Francisco, onde ao menos 150 manifestantes foram detidos na última segunda-feira, segundo a CNN.
(*) Com Ansa, Brasil247 e informações de The Guardian
