Para quem chega a Trieste, a primeira impressão é a de que se trata de mais uma linda e organizada cidade italiana, ainda mais em pleno verão, com sol quente e mar calmo e azul. Mas conforme se aproxima o trem e o olhar se aguça, o visitante percebe que há algo de diferente. Em todas as estações e estacionamentos, há uma campanha de sensibilização com enormes cartazes com os dizeres em inglês “press the G8”, ou “pressione o G8”. Trieste, às margens do Mar Adriático, sediou a reunião de ministros de Relações Exteriores do G8 (os sete países mais desenvolvidos e a Rússia), que terminou hoje (27).
As manifestações traziam caricaturas de Barack Obama, Silvio Berlusconi, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, Dimitri Medvev e dos outros líderes dos países do grupo, cujos ministros se reuniram para falar sobre os “destinos econômicos e políticos do mundo”, como afirmaram. O anfitrião foi o ministro italiano Franco Frattini, já que a Itália é a presidente do G8.
Foram muitos os temas debatidos, mas o mais noticiado foi o comunicado conjunto a respeito da crise iraniana. Os chefes das diplomacias dos países do G8 manifestaram sua insatisfação com a violência no país e fizeram uma advertência às autoridades iranianas de que o assunto das eleições ainda não está “encerrado”. Todos exceto a Rússia, que já havia afirmado na quinta-feira não assinaria um comunicado de condenação ao modo como o Irã conduziu a eleição. “Ninguém deseja condenar o processo eleitoral porque é um exercício de democracia”, declarou Sergei Lavrov, ministro de Relações Exteriores da Rússia.
Todavia, os oito países não explicitaram uma posição firme de denúncia contra o processo de contagem dos votos, nem a respeito das declarações do aiatolá Khamanei sobre a vitória de Ahmadinejad, alegando “não interferência na soberania iraniana”.
E também deixaram a porta aberta para assuntos mais complicados, como a questão nuclear. “Claro, porque business is business” diz Hamidi Moutofi, cidadão iraniano residente na Itália há 30 anos. “De onde vem a tecnologia nuclear que Ahmadiejad compra? Da Rússia. E quando a Rússia está envolvida, não há jogo. Quando há dinheiro envolvido, nenhuma porta será fechada”.
Moutofi estava com sua família na Praça Borsa, em Trieste, como muitos outros iranianos que vivem na cidade e que protestavam e pressionavan o G8 para que não tivesse uma aproximação tímida quanto à questão iraniana, e sim, desse um sinal forte de posicionamento e de corte do diálogo, para que a violência e a repressão tenham um fim.
Hipocrisia
“Não me importa quem ganhe [Mousavi ou Ahmadinejad], os dois são iguais. O que me importa é que daqui se diga algo. Não se pode lidar como se fosse tudo normal. São hipócritas”.
Apesar do pesadelo latente dos movimentos sociais italianos, depois da dura repressão durante a cúpula do G8 em Gênova em 2001, dezenas de pessoas se juntaram para apoiar os protestos iranianos. Trieste se tornou um pedaço do Irã por alguns dias.
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