Num belo cenário natural de vales e colinas verdes dos Apeninos da região italiana de Abruzzo, com clima ensolarado e fresco, começou hoje (8) mais uma reunião de cúpula dos países mais ricos do mundo, o “G8 da crise”, como tem sido chamado. O evento ocorre em Áquila, cidade que há pouco mais de três meses sofreu um dos terremotos mais fortes da história da Itália, de 5,8 graus na escala Richter, que deixou 300 mortos e 52 mil desabrigados.
Tudo está pronto para acolher os líderes no quartel militar de Coppito, a única estrutura na cidade capaz de agüentar um abalo sísmico superior a 4 graus. O evento custa 150 milhões de euros e mobiliza 15 mil homens para a segurança, entre policiais e soldados. O luxo dos jardins e pátios com pasto inglês, construídos para o evento, contrasta com a realidade da assim chamada “zona vermelha”, área onde somente delegados e imprensa podem entrar.
Ao redor dos 10 quilômetros do quartel militar ficam as “tendopoli”, verdadeiras cidades de barracas onde os desabrigados estão alojados desde o tremor. Em cima da montanha, em um pasto, lê-se numa placa feita de pedras a mensagem “Yes, we camp”, que se transformou no bordão dos residentes que pressionam o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi para que cumpra a promessa de construir 15 mil casas antes de setembro, devolvendo à cidade 100% de sua história e de sua gente (foto abaixo, de Claudio Lattanzio/EFE).
“Nem parece que o G8 está aqui”, reflete Mattia Merlo, jovem que vive em uma das tendas com a família. “O que nós podemos entender deste evento é que irão nos dar mais atenção ou nos ignorar completamente. É bom que os presidentes estrangeiros tenham adotado a [tarefa de] reconstrução das belas artes destruídas pelo terremoto, mas seria melhor se adotassem algum palácio e algumas casas para nós”.
Efeito estufa
Os temas quentes na mesa de discussão da cúpula são a crise econômica, o aquecimento global e a erradicação da pobreza. Hoje, pouco após ser anunciado o objetivo de reduzir em 80% as emissões de gases causadores de efeito estufa, Rússia, Índia e China se posicionaram contra.
“Para nós, o percentual de 80% é inaceitável e provavelmente fora de cogitação”, declarou à imprensa russa o principal assessor econômico do presidente Dmitri Medvedev, Arkady Dvorkovitch. “Não vamos sacrificar o crescimento econômico com a única finalidade de reduzir as emissões”.
Membros da delegação chinesa alegaram que a ausência do líder Hu Jintao acabou com as esperanças de um acordo. Jintao voltou à China por causa dos confrontos na região de Xinjiang, no noroeste do país, que em três dias deixou pelo menos 156 mortos, mais de mil feridos e 1,434 mil detidos.
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“A China não está aqui, portanto, eles não podem ir a lugar nenhum. Nós abordaremos isto novamente no G20, quando a China estiver presente”, disse uma fonte europeia de alta patente do G8 envolvida nas conversações, que não quis se identificar.
Amanhã (9), o tema principal será África e países pobres em geral, com a participação de membros do G20 e da União Africana. Manifestações da sociedade civil são esperadas para o dia do encerramento, sexta-feira, aniversário da morte de Carlo Guliani, o jovem manifestante assassinado no íltimo G8 italiano, em 2001, em Gênova.
Barack Obama, em seu primeiro G8, e o anfitrião Silvio Berlusconi conferem os destroços do terremoto em Áquila; foto: Ettore Ferrari/EFE
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