A única forma que os norte-americanos têm de ir a Cuba hoje em dia é clandestinamente. Mas esta situação pode mudar, caso a Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos aprove um projeto de lei bipartidário, que vai muito além da proposta inicial lançada pelo presidente Barack Obama durante a campanha eleitoral.
Obama prometeu que levantaria as restrições que impedem os exilados cubanos de viajar para a ilha, já que atualmente só é permitido visitar o país a cada três anos. Mas o projeto apresentado pelos deputados federais Jeff Flake, republicano, e William Delahunt, democrata, prevê que todos os norte-americanos possam ir a Cuba quando quiserem.
O projeto chama-se “Ata pela Liberdade de Viajar a Cuba” e proíbe o presidente de “regulamentar ou proibir de viajar a Cuba os residentes dos Estados Unidos, exceto em tempos de guerra entre os dois países ou quando existe uma crise sanitária, perigosa para os viajantes norte-americanos”.
Histórico
Depois do triunfo da Revolução Cubana, em 1959, os norte-americanos foram proibidos de ir à ilha a partir de 1960. Em 1976, quando o presidente Jimmy Carter, democrata, chegou ao poder, as barreiras foram eliminadas e a ilha se encheu de turistas. Mas Carter decidiu ativar o bloqueio de novo em 1980, quando eclodiu a crise do Mariel, quando mais de 125 mil refugiados cubanos fugiram para a costa da Flórida.
“Realmente, estamos voltando à era Carter, mas tenho a sensação que não será um projeto fácil. A menos que conte com o apoio tácito de Obama”, comentou ao Opera Mundi o analista Daniel Alvarez, ao considerar que o apoio majoritário à idéia, dentro da ala democrata, não é tão claro.
Segundo o vice-presidente do Lexington Intitute, Phil Peters, estão dadas as condições para que o projeto seja aprovado pelo Congresso, que por sua vez, se encontra ocupado em meio às discussões dos pacotes de auxílio aos bancos e à indústria automobilística.
“A verdade é que já não há uma ameaça de veto [por parte do presidente, como ocorreu na época de George W. Bush]. Mas tenhamos em conta que este projeto não é novo, tem sido introduzido todos os anos, só que agora há condições mais favoráveis”, acrescentou Peters .
Atualmente, um norte-americano, ainda que seja exilado cubano naturalizado, pode ser multado em até US$ 150 mil por viajar para Cuba sem autorização do governo.
Congressistas cubanos são contra
Apesar de os democratas gozarem de uma cômoda maioria nas duas câmaras do Congresso, o projeto conta com alguma oposição como, por exemplo, dos congressistas cubano-americanos do sul da Florida.
Sua expressão mais emblemática é, sem dúvida, o republicano Lincoln Diaz-Balart, sobrinho do ex-presidente cubano Fidel Castro, e um dos seus mais duros adversários. Diaz-Balart acusou, em diversas ocasiões, que seus colegas de Câmara, Jeff Flake e William Delahunt, “servem à tirania”.
As viagens a Cuba são um estigma dentro da comunidade exilada do sul da Florida. Milhares de cubanos viajam anualmente à ilha, violando todas as restrições existentes. Mas muitos têm dificuldade em assumir o fato publicamente, principalmente pela pressão dos setores mais radicais do exílio, que dominam a maior parte dos meios de comunicação.
Um dos elementos mais radicais dessa direita conservadora, o locutor Armando Pérez Roura, que já foi porta-voz do ditador Fulgêncio Batista, depois serviu o regime de Fidel Castro e acabou se exilando em Miami em 1969, ainda dizia na semana passada aos microfones de sua emissora de rádio: “Viajar a Cuba não só é uma traição ao exílio, mas também a essência da cubanidade”. A julgar pelas chamadas telefônicas que recebeu e que foram colocadas no ar, ninguém prestou muita atenção.
A proposta de Flake e Delahunt conta com o apoio de outros sete deputados, entre eles o ex-pré-candidato presidencial republicano, Ron Paul, do Texas.
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