A tentativa de golpe de Estado na Bolívia na quarta-feira (26/06) foi planejada há três semanas e envolvia militares que “conspiraram” para violar a ordem constitucional do país, foi o que disse o ministro do Governo, Eduardo del Castillo.
Segundo del Castillo, na manhã desta quinta-feira (27/06), relatórios técnicos periciais indicam que um grupo militar, liderado pelo então general Juan José Zúñiga, planejou tal insubordinação com o intuito, como defendeu o golpista, de “recuperar a Pátria”.
“Vários militares organizaram-se, conspiraram para tentar violar a ordem constitucional e houve um golpe de Estado fracassado (…). Segundo os relatórios técnicos periciais, dão-nos uma data aproximada em que, há cerca de três semanas, este evento teria sido planeado para derrubar um governo democraticamente eleito”, disse.
O ministro afirmou que o governo recebeu informações com relação à possíveis tentativas de “desestabilizações” e “golpes suaves”, mas ressaltou que “nenhum boliviano teria imaginado” a magnitude de um episódio como o que ocorreu nesta quarta. “Foi um dos episódios mais inquietantes da história recente do país”, acrescentou.
Ainda de acordo com autoridades do país, ao menos 12 pessoas ficaram feridas e há uma dezena de soldados presos por envolvimento na tentativa de tomada do poder.
O jornal El Deber disse que, até o momento, apenas Zúñiga e Juan Arnez Salvador, então comandante da Marinha, serão presos pelos crimes de terrorismo e levantamentos armados contra a soberania do Estado.
Zúñiga foi preso na tarde de quarta após invadir o Palácio Presidencial e tentar o golpe de Estado. O ministro del Castillo negou que as acusações do ex-general sobre um autogolpe de Luis Arce, presidente da Bolívia, sejam verdadeiras, apontando que “falta veracidade” ao golpista.
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“Ele já foi informado da perda do cargo. Ele violou a Constituição Política do Estado. Um soldado não pode deliberar sobre política, não pode deliberar sobre assuntos do território nacional. Os militares estão lá para cumprir instruções”, afirmou, declarando que Zúñiga e Salvador serão acusados de crimes que podem resultar em 15 a 30 anos de prisão.
Falta de apoio
Já a ministra da Presidência, María Nela Prada, revelou que, segundo o ex-comandante Zúñiga, a tentativa de golpe falhou por falta de apoio militar.
O ex-chefe do Exército boliviano liderou tanques e soldados para tomar a sede do Executivo boliviano, mas confessou que não conseguiu “consumar os objetivos da revolta porque seus reforços demoraram a chegar”.
Segundo a ministra, ao ser questionado sobre “o motivo pelo qual os objetivos do levante não foram alcançados”, o ex-comandante do Exército admitiu que “as unidades da Viacha demoraram a chegar” e que “também o pessoal da Marinha e da Força Aérea não puderam ir até o local”.
Tentativa de golpe
O ex-comandante do Exército boliviano Juan José Zúñiga liderou uma tentativa de golpe na quarta-feira contra o governo Arce. Com tanques grupos militares armados, os golpistas cercaram a Praça Murillo em La Paz, local no qual está situado o Palácio Presidencial do país.
No dia anterior, Zúñiga foi afastado do cargo que ocupava desde 2022 após ameaçar Evo Morales por se opor a uma possível candidatura do ex-presidente para a disputa das eleições de 2025. Zúñiga e os militares invadiram o prédio falando em “recuperar a Pátria”.
Após esse primeiro momento, Arce denunciou uma “mobilização irregular de algumas unidades do Exército Boliviano”, enquanto Morales afirmou que os militares estavam “se preparando um golpe de Estado”.
A tentativa foi frustrada após Arce encarar o ex-general e dar posse a novos comandantes militares, sendo eles: José Wilson Sánchez Velasquez, no Exército; Gerardo Zabala Alvarez, na Força Aérea, e Wilson Ramírez, na Marinha.
Durante seu pronunciamento logo após a posse, o novo comandante do Exército, Sánchez Velasquez, ordenou que as tropas mobilizadas nas ruas durante o golpe voltassem imediatamente aos quartéis, o que foi cumprido pelos soldados que, minutos antes, estavam obedecendo a Zúñiga.
Por usa vez, o presidente Arce agradeceu aos bolivianos que se mobilizaram para rechaçar o golpe.