Liderados pelo ministro de Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, mais de 80 empresários do país iniciaram no início da semana uma visita de negócios à China, com duração de quatro dias. A dimensão da viagem é ilustrada pelas mais de mil reuniões entre executivos das duas nações.
Em declarações à imprensa argentina, Taiana afirmou que “a China se transformou no segundo sócio da Argentina”. De acordo com a chancelaria, “estão previstos 600 encontros em Pequim e 400 em Xangai”.
Álvarez Díaz/EFE (28/01/2010)
Taiana visita estande da Argentina na Feira de Exposição Universal de Xangai 2010
A numerosa comitiva é integrada essencialmente por empresários ligados a setores da indústria energética, principalmente à exploração e produção de petróleo; à mineração; a obras de infraestrutura, como portos e usinas hidrelétricas; e aos eletrodomésticos, especialmente televisores, aparelhos de ar-condicionado e telefones celulares.
A soja, um dos principais motores da economia argentina, também é protagonista, com a presença de vários empresários do setor. “A Argentina exporta à China 30% de sua produção de grãos de soja e é o maior fornecedor de óleo de soja”, afirmou ao Opera Mundi o diretor-executivo da Câmara de Produção, Indústria e Comércio Argentino-Chinesa, Ernesto Fernández Taboada.
A princípio, estava prevista a participação da presidente Cristina Kirchner na viagem. No entanto, ela anunciou na semana passada que desistira de integrar a comitiva, alegando temer uma tentativa de desestabilização institucional por parte do vice-presidente Julio Cobos, da oposição.
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A China se tornou o segundo destino mais importante das exportações argentinas. Além da soja, produtos como couro, peles, tubos de aço sem costura, lã, pescado congelado, vinho tinto de alta qualidade, azeite de oliva e derivados de frango e bovinos ocupam lugar importante nas balanças comerciais dos dois países.
Brasil, Argentina e China
A importância conferida à viagem também está ligada à disputa comercial entre a Argentina e o Brasil. Questionado pelo Opera Mundi, Fernández Taboada admitiu que “não se pode negar que ambos os países querem ficar bem com a China. O setor no qual mais competimos é o de alimentos. As duas nações e os Estados Unidos são três grandes fornecedores de soja à China, e este produto é vital para o desenvolvimento da Argentina. Como não tratar bem nosso melhor cliente de nosso principal produto? Em menor grau, disputamos em madeira, pescado e couro, embora eles (o Brasil) tenham um desenvolvimento superior nessas áreas. Quanto aos demais setores, a relação comercial sino-brasileira é muito superior à nossa e mais extensa. Por exemplo, o Brasil vende aviões à China. Ainda estamos muito longe disso.”
Taiana teve um encontro com os executivos-chefes das 15 principais empresas radicadas em Xangai, que faturam bilhões de dólares. Ele buscou reverter a desvantagem comercial argentina no poderoso país asiático. Além disso, em matéria de investimentos, as remessas chinesas destinam-se mais ao Brasil, Equador, Venezuela e Chile do que à Argentina.
Mineração
Sem dúvida, outro setor fundamental no qual o governo argentino aposta com grande expectativa é a mineração. Viajaram ao país asiático não só o secretário de Mineração argentino, Jorge Mayoral, mas também numerosos funcionários provinciais dessa área. Segundo dados oficiais, nos últimos três anos, a produção de minério passou de um bilhão para 4,6 bilhões de reais, aproximadamente.
Os principais destinos das vendas externas são o Japão, o Sudeste Asiático e a União Europeia, mas não a China. A porta-voz da Secretaria de Mineração, Eliana Gualtieri, declarou ao Opera Mundi que “a China tem capacidade financeira, equipamento e experiência no setor. Depois desse país, trataremos de seduzir comercialmente a Índia, outra nação que gostaríamos que investisse nessa área em nosso país”.
Em comunicado enviado da China a vários meios de comunicação argentinos, Mayoral afirmou que “a Argentina já recebe investimentos para exploração mineral de mais de 70 países e, em 2023, poderá estar entre os maiores produtores continentais de ferro, cobre, prata, ouro, lítio, borato e potássio, se o desenvolvimento da mineração for real e incontestável”.
Segundo um informe do Minning Journal, uma das revistas especializadas em mineração mais importantes do mundo, a Argentina está em sexto lugar no ranking mundial de recursos minerais, graças a uma superfície de mais de dois milhões de quilômetros quadrados extremamente rica em recursos. A avaliação do potencial metalífero fundamenta-se nas características geológicas e metalogenéticas favoráveis dos poucos depósitos em exploração e das numerosas jazidas em fase de exame de viabilidade, ao que se deve somar a alta porcentagem de superfície com potencial mineral ainda inexplorado, estimada em pelo menos 75%.
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