O governo argentino moveu hoje (8) ações penais contra um grupo de agricultores que invadiu uma pista de pouso militar para aguardar a chegada da presidente Cristina Kirchner e entregar uma carta de reivindicações. O fato ocorreu ontem na cidade de Paraná, capital da província de Entre Rios (550 quilômetros a nordeste de Buenos Aires).
Ruralistas da Federação Agrária Argentina protestavam para chamar a atenção do governo para as dificuldades dos produtores agrícolas. Alfredo Bel, dirigente da entidade, que entregou o documento à presidente, afirmou que o setor não consegue conversar com a Casa Rosada.
“Foi uma decisão espontânea para tentar estabelecer um diálogo com o governo, que os agricultores não conseguem. O governo não nos recebe desde março”, disse em entrevista ao Opera Mundi.
Ontem à noite, foi emitido o comunicado oficial do Ministério da Defesa ao serviço jurídico pedindo o início das ações penais contra os manifestantes. O governo alega “violação do artigo 190 do Código Penal, que condena ações contra a segurança nos meios de transporte, incluindo os aéreos”.
“A ação legal é para enfrentar os atos dos que perturbaram a segurança da presidente da nação, do conjunto de pessoas que estavam na base aérea e dos funcionários nacionais e provinciais lá reunidos”, explica o comunicado do ministério.
Assista a um vídeo com cenas da invasão:
A ministra da Defesa, Nilda Garré, suspendeu imediatamente o chefe da 2ª Brigada Aérea com sede em Paraná, Juan Eduardo Tozzo, responsabilizado pelas falhas de segurança que permitiram que Bel e outros manifestantes chegassem até o avião.
O dirigente da central agrária conta que os funcionários do local tentaram impedir a entrada dos manifestantes, mas que não houve violência.
O ministro da Justiça, Aníbal Fernández, declarou hoje que o que aconteceu é um “disparate” e que “não está disposto a permitir manifestações que prejudiquem a segurança”. Advertiu que “os responsáveis terão que dar várias explicações”.
“Estes senhores têm todo o direito do mundo de manifestar e pedir, mas não podem invadir uma base militar”, disse Fernández em entrevista à rádio local Diez.
Governador: não é para tanto
O governador de Entre Rios, Sergio Urribarri, avalia que os efeitos da manifestação não são tão graves quanto alega o Ministério da Defesa.
“Não aconteceu absolutamente nada. A presidente recebeu um papel e seguiu o caminho dela, e ninguém foi reprimido. Além disso, ela estava de muito bom humor ao cumprir a agenda”, disse ao jornal Diário Uno de Entre Rios o governador, que é do Partido Justicialista (Peronista), o mesmo da presidente.
“Ela não se incomodou, não se importou, mas ficou surpresa por ter visto tantas pessoas na pista”, conta.
O motivo da visita da presidente era a inauguração de três empreendimentos no Parque Industrial de Paraná.
Alfredo Bel afirma que a postura do governo diante da manifestação não o surpreende. “Essa reação já era esperada, mas nós tínhamos que tentar o diálogo”.
Briga dura mais de um ano
As quatro maiores associações de agricultores e criadores de gado do país, que reúnem cerca de 290 mil produtores, entre elas a Federação Agrária Argentina, exigem a eliminação ou a redução dos impostos da exportação de grãos, motivo de um longo conflito que veio a público em março de 2008.
A carta entregue ontem, segundo Alfredo Bel, pedia uma solução para a situação dos pequenos produtores de Entre Rios e para os problemas da política agrária da região. Segundo ele, o impasse piorou com a crise econômica.
A região de Entre Rios tem uma produção diversificada, contando com produtos como leite, milho, soja, arroz, feijão, e tem sido prejudicada pela queda do preço desses produtos.
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