Uma semana depois do assassinato do boliviano Brayan Yanarico Capcha, de cinco anos, por um assaltante em São Paulo, no momento em que era consolado no colo da mãe, o embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, defendeu uma “reação em dupla direção” por parte do governo brasileiro. Para ele, é preciso punir os responsáveis pela morte da criança e ampliar a segurança nas áreas onde vivem os bolivianos que migram para o Brasil.
Wikimedia Commons
“Esperamos uma reação do governo brasileiro, uma reação em dupla direção: a busca pela justiça e a punição e mais proteção nos bairros onde moram os bolivianos porque, geralmente, há ausência policial”, ressaltou o embaixador. “Não mataram a criança porque era um menino boliviano. Mataram porque a delinquência não é direcionada aos estrangeiros, mas a todos”.
Justiniano Talavera alertou que é preciso redobrar os esforços para tentar uma solução para os bolivianos que são explorados no Brasil. Segundo ele, a desinformação associada ao medo agrava ainda mais a situação. A seguir, os principais trechos da entrevista do embaixador.
Agência Brasil – O que o governo da Bolívia espera como reação do Brasil, após a morte do Brayan Yanarico, no último dia 28?
Jerjes Justiniano Talavera – Esperamos uma reação do governo brasileiro em dupla direção: a busca pela justiça, a punição; e mais proteção nos bairros onde moram os bolivianos porque, geralmente, há ausência policial. É preciso que se faça justiça para aquele pai e aquela mãe que perderam o filho. Que o Estado brasileiro busque justiça. Mas é preciso também dar maior proteção para os bairros onde moram os bolivianos que vêm buscar oportunidades [no Brasil]. Não mataram a criança porque era um menino boliviano. Mataram porque a delinquência não é direcionada aos estrangeiros, mas a todos na sociedade.
NULL
NULL
ABr – Mas a morte do Brayan trouxe à tona a fragilidade que envolve os bolivianos que procuram a sorte no Brasil. Como o governo da Bolívia lida com o tema?
JJT – Há aproximadamente 250 mil bolivianos morando no Brasil, mas calculamos que de 14 mil a 15 mil são irregulares. Infelizmente são muito explorados, embora a maioria seja de mão de obra qualificada, em geral, excelentes artesãos. A exploração existe pela desinformação por parte dos bolivianos, que não sabem que é possível ser legal no Brasil sem ter de passar por intermediários.
ABr – A exploração dos bolivianos no Brasil é tema constante de discussões de autoridades dos dois países.
JJT – Recentemente fiz uma reunião com uma comissão de parlamentares que analisa a questão da exploração e do trabalho escravo. Os parlamentares conversaram com vários bolivianos que vivem em São Paulo e estão em uma situação que nos preocupa. Os deputados ouviram deles que não querem denunciar por medo. Medo das autoridades brasileiras e bolivianas. Tudo isso precisa ser trabalhado no esforço de impedir que essas situações se repitam.
ABr – O senhor tem alguma sugestão para minimizar o problema a curto prazo?
JJT – Se as autoridades brasileiras pedissem minha opinião, eu iria propor que os bolivianos trabalhem na região de fronteira da Bolívia com o Brasil, e os brasileiros passem a comprar os nossos produtos [bolivianos] sem impor tarifas elevadas nem taxas. A meu ver, é um meio de reduzir o problema e atender a todos. Mas é só uma sugestão pessoal.