O governo interino da Síria fechou um acordo com a organização militar e política Forças Democráticas Sírias (SDF), dominadas pelos curdos, que permite “integrar” as instituições civis e militares lideradas pelo grupo ao Estado.
Segundo a Al Jazeera, o compromisso firmado diz que “todas as instituições civis e militares” sejam integradas “na administração do Estado sírio, incluindo as travessias de fronteira, o aeroporto e os campos de petróleo e gás”.
O acordo refere-se às instalações curdas no nordeste da Síria, onde as SDF administram há seis anos de forma autônoma cerca de um terço do território sírio depois de derrotarem o Estado Islâmico (EI) naquela área com o apoio dos Estados Unidos.
O pacto estabelece um cessar-fogo em todo território nacional e garante que os curdos sejam integrantes da Síria, garantindo “cidadania e direitos constitucionais”.
O novo governo sírio divulgou uma imagem do presidente interino, Ahmed Al-Sharaa, apertando a mão de um dos principais líderes da comunidade curda na Síria, Mazloum Abdi.
Além disso, o acordo menciona que os membros das SDF deverão combater militantes pró-Bashar Al-Assad. A condicionante vem um dia após o fim da operação militar no oeste da Síria que, desde o último 6 de março até esta segunda-feira (10/03), matou mil pessoas segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O estopim do conflito foi na última quinta-feira (06/03), quando apoiadores do ex-presidente Bashar al-Assad atacaram forças de segurança na região de Latakia, onde há grande presença da minoritária comunidade alauíta, uma linhagem do islã xiita da qual o clã de Bashar al-Assad é pertencente.
O porta-voz do Ministério da Defesa sírio, Hasan Abdel Ghani, declarou por meio da agência Sana que houve “sucesso” das “forças em alcançar todos os objetivos estabelecidos”.

Acordo refere-se às instalações curdas no nordeste da Síria, onde as SDF administram há seis anos de forma autônoma
Em sua declaração, disse que as forças de segurança conseguiram “conter os ataques do que resta do regime deposto”, afastando os seus combatentes de “locais vitais” e, ao mesmo tempo, “manter a segurança nas principais estradas” de Tartus e Latakia.
Já o OSDH, que tem sede no Reino Unido, denuncia que houve execuções sumárias e classifica que a operação foi de “limpeza étnica”. O levantamento do observatório aponta que 745 civis foram mortos, além de 125 agentes de segurança e 148 combatentes defensores de Bashar al-Assad.
“Filme de guerra”
Diante do conflito, o governo brasileiro recomendou que seus cidadãos evitem viajar para a Síria e repudiou os ataques contra a população alauíta.
Em uma nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores orientou que os brasileiros “não viajem à Síria e, caso estejam no país, adotem as indicações de segurança das autoridades locais”.
“Ao expressar repúdio ao recurso da violência, sobretudo contra civis, o Brasil transmite condolências aos familiares das vítimas”, acrescenta o comunicado do Itamaraty divulgado na última segunda-feira (10/03).
O embaixador brasileiro na Síria, André Luiz Azevedo dos Santos, classificou a crise como “algo digno de um filme de guerra”. “Os primeiros relatos foram aterradores. Recebemos áudios. A quantidade de projéteis lançados é realmente assustadora”, declarou.
O diplomata afirmou que está em contato com os brasileiros que vivem na região do “massacre” e que recebeu “pedidos de ajuda” para deixar a zona afetada.
(*) Com Ansa e Brasil de Fato