O presidente de El Salvador, Mauricio Funes, pretende promover uma série de consultas junto ao setor privado, à Igreja, a acadêmicos e a partidos políticos para formular soluções para a crescente violência no país centro-americano. O número de homicídios em 2009 (4.365) foi 37% maior que em 2008 (3.179), tornando-se o mais alto da década, de acordo com dados oficiais.
As reuniões entre Funes e tais setores devem começar a partir da próxima semana, conforme explicou o presidente durante pronunciamento feito para 400 empresários na segunda-feira (1º). No dia, a CCIES (Câmara de Comércio e Indústria de El Salvador) apresentou ao governo federal uma série de propostas pedindo um aumento da rigidez da atual legislação em relação à criminalidade, além do aumento da participação militar no combate à violência.
O presidente da CCIES, Jorge Daboub, afirmou ao Opera Mundi que os empresários têm pressionado o presidente desde o ano passado para que encontre soluções para a violência. “A extorsão e os assaltos afetam principalmente os negócios, os pontos comerciais, ou seja, os empresários. Nós desconfiamos da segurança feita pelas entidades nacionais”, disse.
“A relação entre o governo e os empresários no quesito combate à criminalidade sempre existiu antes de Funes, e para nós interessa aprofundar essa relação, porque somos diretamente afetados”, concluiu Daboub.
Como parte de um plano de segurança do governo, Funes oficializou em novembro a criação de grupos militares para patrulhar, ao lado da polícia, as zonas mais perigosas do país. O objetivo é que 2,5 mil militares apóiem, em operações de registro de pessoas e veículos, a detenção de delinquentes, o resguardo das zonas fronteiriças e garantam a segurança na parte externa dos centros penais e de menores.
Na ocasião, o presidente disse que havia pedido o apoio de todos para “enfrentar” o problema. “Estou absolutamente convencido de que a magnitude do monstro que enfrentamos nos obriga a nos unir”, afirmou à época.
Altos índices
No entanto, para a Coalizão Centro-americana para a Prevenção da Violência Juvenil, uma organização salvadorenha não governamental, as medidas atuais do governo e o esforço em se conectar a outros setores é insuficiente. Para o grupo, o objetivo da polícia é “unicamente reprimir o delito” e não atinge as raízes do problema da violência.
Considerado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o país mais violento da América Central em 2009, El Salvador passou pela maior onda de violência da década, segundo dados oficiais. Em 2009, foram registrados 4.365 homicídios, ou seja, 71 para cada 100 mil habitantes. A Organização Pan Americana de Saúde (Paho, a sigla em inglês) estipula que para uma taxa de homicídio ser considerada “normal” deve ter entre 0 e 5 vítimas para cada 100 mil habitantes.
Para alguns empresários, como Daboub, a legislação salvadorenha é flexível em relação ao comércio e posse de armas de fogo. De acordo com as estatísticas da polícia, em 2009, dos 4.365 homicídios cometidos, 3.311 envolveram armas de fogo (75%). Além disso, dados oficiais estimam que mais de 450 mil armas de fogo estejam nas mãos de civis e destas, apenas a metade tem registro.
Violência em ascensão
O subdiretor de Investigações da Polícia, Howard Cotto, informou que foram cometidos em janeiro 28 homicídios a mais se comparado com o mesmo período em 2009 – 403 crimes, frente 374 em 2009.
Em entrevista ao Opera Mundi, Cotto explicou que a média diária aumentou para 13 assassinatos, sendo que meses atrás, era de 12.
No dia 16 de janeiro, durante a comemoração do 18º aniversário dos Acordos de Paz após a guerra civil (1980-1992), uma granada de fragmentação M-67 explodiu no centro da capital, San Salvador. O atentado provocou a morte de uma pessoa e deixou mais de 15 feridas. Dois suspeitos já foram presos, um deles era menor de idade.
O alto índice de violência do país é atribuído às gangues. As “maras”, como são chamadas, foram importadas dos Estados Unidos no final da guerra civil salvadorenha, quando jovens imigrantes com histórico de delinquência foram deportados, trazendo consigo o modo de vida violento, conforme mostrou a reportagem especial do Opera Mundi.
As maras evoluíram até se converter em estruturas bem organizadas e hoje mantêm o controle de numerosas cidades, principalmente na periferia de San Salvador.
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