Antes que Honduras fosse suspensa oficialmente pela OEA (Organização dos Estados Americanos), o governo de Roberto Micheletti, que chegou ao poder depois do golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya no último domingo, anunciou hoje (4) a saída da organização.
A vice-chanceler interina, Martha Alvarado, acompanhada por Roberto Micheletti, anunciou que Honduras “denunciava a Carta da Organização dos Estados Americanos em conformidade com o previsto no artigo 143 da mesma, com eficácia imediata”. A declaração de Alvarado foi dada poucas horas antes de se cumprir o prazo de 72 horas dado pela OEA ao governo interino hondurenho para a restituição de Zelaya.
Segundo o governo, a decisão foi tomda porque “já não há espaço para Honduras na OEA”. Micheletti não aceita as decisões do organismo e reivindica o direito à soberania e autodeterminação.
Mas o governo “interino” não quer comentar a decisão antes de averiguar as reações da comunidade internacional. “Temos que esperar algumas horas. Não temos autorização para falar disso”, afirma Martha de Casto, subsecretaria de relações exteriores, recém nomeada por Roberto Micheletti.
Às 19h30 de ontem, o secretario geral da organização, o chileno José Miguel Insulza confirmou na frente de dezenas de jornalistas que a Organização seguia reconhecendo Manuel Zelaya como único presidente legitimo e desconhecendo o governo golpista.
Consequências econômicas
Insulza declarou que a OEA considerava ter acontecido um verdadeiro golpe de Estado militar, mesmo que o atual governo golpista não seja composto por membros do Exército.
“Eu não sei como vocês chamam quando um grupo de militares, mandado por militares faz uma operação militar, tira um presidente, coloca em um avião e manda a outro país. É um golpe militar”, afirmou o chileno.
Acrescentou que o golpe de Estado e a criação de um governo ilegítimo representavam para o organismo americano uma ruptura muito grave do direito internacional.
Nas ruas de Tegucigalpa, é possível perceber o medo que a crise política provoca entre os hondurenhos. Eles temem, sobretudo, as consequências em termos econômicos e comerciais. As pessoas passarão por graves dificuldades sendo isoladas.
Um dos efeitos mais fortes que pode ter a suspensão ou a saída de um país da OEA é o congelamento de créditos, algo que poderia afetar gravemente Honduras, o terceiro país mais pobre de América Latina.
Clima polarizado
O que fica claro é que o país está dividido em dois. Continuam as manifestações contra e a favor do presidente Zelaya, em um clima sempre polarizado.
Há quem, como o tenente coronel da policia nacional Daniel Madrid, afirme que não quer nunca que o presidente Zelaya volte. Madrid considera “que é um delinquente marxista leninista que vai levar o nosso país a anarquia”. E esta opinião é veiculada pelos programas televisivos que demonizam a figura de “Mel”, como é chamado pelo povo.
Os partidários de Micheletti nem aceitam o termo “golpe de Estado”. Estão prontos para o isolamento e para a defesa de Honduras diante de todos os países do mundo que não os entende.
Do outro lado, os movimentos sociais, os sindicatos, os camponeses e as associações de cidadãos, que dizem representar mais da metade da população, esperam por seu presidente, e manifestam por isso nas ruas.
Durante a coletiva de imprensa, Insulza se recusou a dizer o que o presidente deposto fará nos próximos dias. “Se Zelaya pergunta minha opinião, eu darei, mas isso não é algo que vou comentar aqui”, limitou-se a declarar. O secretário geral da OEA esclareceu que o possível regresso do presidente legítimo era uma decisão pessoal, assim como a intervenção de chefes de estado, como a argentina Cristina Kirchner e o equatoriano Rafael Correa.
“Voltar é uma decisão do presidente Zelaya. Se ele quer fazê-lo, tem o direito. Se algum dos presidentes decidirem acompanhá-lo, também têm seu direito, mas isso não é uma decisão da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos”.
Em Honduras, espera-se. Esperam-se as reações à saída da OEA. Espera-se um provável regresso de Zelaya e, enquanto isso, ninguém tem a resposta para quanto a sair pacificamente deste impasse.
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