O governo japonês acaba de tirar do papel o ponto mais polêmico de um pacote de medidas criado para combater a recessão financeira global: o financiamento de passagens aéreas para que imigrantes desempregados possam retornar aos seus países de origem.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social informou no dia 30 de março que subsídios individuais de US$ 3 mil serão concedidos a partir de abril a brasileiros e outros estrangeiros com ascendência japonesa que queiram ser repatriados. Os dependentes desses imigrantes receberão US$ 2 mil cada.
O nó da questão é que, ao aderir ao programa, os beneficiados serão impedidos de retornar ao arquipélago no futuro. Atualmente, mais de 300 mil brasileiros vivem em situação regular no país, mas por conta da crise, muitos perderam os empregos que mantinham nas fábricas de eletroeletrônicos e montadoras de veículos.
“Essa é uma medida desesperada. O Japão não se preparou para ser um país de imigrantes e agora trata essa mão-de-obra como se fosse descartável”, opina Roberto Maxwell, mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Shizuoka e especialista em migrações internacionais.
Essa é a primeira vez que o país toma uma decisão desse porte desde que nikkeis latino-americanos conquistaram o direito à residência no Japão, estabelecido por lei em 1990.
Desemprego cresce
De acordo com o ministério, o índice de desemprego em solo nipônico aumentou 4,4% desde o segundo semestre de 2008, o que se configura no pior desempenho dos últimos três anos. O governo calcula que, até junho, cerca de 192 mil trabalhadores terão sido cortados do mercado formal.
Os dados vêm sendo coletados desde outubro, quando multinacionais como Toyota, Honda, Sony e Mitsubishi anunciaram cortes de funcionários, redução de salários e fechamento de linhas de produção devido à queda das exportações para os Estados Unidos.
Dois em cada três demitidos até o momento, segundo relatório divulgado pelo governo, haviam sido contratados por meio de intermediadores. Isto é, agências que entre os imigrantes são conhecidas como “empreiteiras”. “Somente ontem (1) recebemos mais de cem telefonemas de pessoas que queriam saber mais sobre essa ajuda do governo”, comenta Carlos Zaha, diretor da Associação Brasil Fureai. A entidade é uma das organizações não-governamentais criadas para auxiliar os dekasseguis na recolocação profissional.
Investimento em capacitação
Ainda não há um orçamento definido para atender os candidatos ao programa, mas algumas províncias, como a de Tóquio, também têm investido em treinamento profissional e ensino do idioma aos estrangeiros. De acordo com o jornal Mainichi, o governo da capital japonesa acaba de destinar mais de US$ 10 milhões à capacitação de 5 mil trabalhadores.
“Essa opção pela volta é bastante complicada, porque o Brasil exige uma capacitação profissional que muitos não possuem. Também existe o processo de readaptação ao país e à qualidade de vida. Muita gente não tem nada, está morando de favor, mas ainda assim quer ficar no Japão”, comenta Gisélia Oda, presidente do Serviço de Assistência aos Brasileiros no Japão (Sabja), organização que há dez anos fornece atendimento psicológico, médico e jurídico gratuito aos imigrantes.
Antes de o gabinete do primeiro-ministro Taro Aso anunciar que bancaria o processo de repatriação dos dekasseguis, a província de Gifu, um dos pólos industriais do país, já havia lançado um pacote semelhante.
Financiamentos destinados à compra de 700 passagens aéreas foram oferecidos a brasileiros que comprovassem não dispor de renda para voltar para casa. O empréstimo, liberado no início de março, seria corrigido a juros de 1,5% ao ano e parcelado em até cinco anos.
Só poderia solicitar o empréstimo quem residisse na província há pelo menos um ano e comprovasse não dispor de recursos, assim como não possuir bens ou poupança.
Leia também:
Desempregados, dekasseguis buscam benefícios sociais
NULL
NULL
NULL