Quarta-feira, 11 de junho de 2025
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“Caro Presidente Trump, há pouquíssimas iniciativas que o senhor empreendeu desde que assumiu o cargo com as quais concordo — exceto no Oriente Médio. O fato de o senhor viajar para lá (…) e de não ter planos de ver o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Israel, sugere-me que o senhor está começando a entender uma verdade vital: que este governo israelense está se comportando de modo a ameaçar os interesses mais importantes dos EUA na região. Netanyahu não é nosso amigo”.

Neste tom e com esta mensagem, o premiado jornalista Thomas Friedman começa o seu artigo ‘Este governo israelense não é nosso aliado‘, publicado no The New York Times na última sexta-feira (09/05). O texto é endereçado diretamente a Donald Trump, por ocasião de sua viagem a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, a partir desta terça-feira (13/05).

Exemplo de argumentação, a carta Friedman toca em pontos caros ao republicano: a soberania do país, o prestígio do seu poder e as oportunidades que o cessar-fogo pode trazer. Friedman elogia o ‘instinto’ de independência de Trump e o alerta sobre a manipulação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

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O jornalista argumenta que o governo israelense vem atacando a arquitetura de segurança construída por sucessivos governos dos Estados Unidos. Uma arquitetura fundamental ao projeto de poder norte-americano no Oriente Médio. Em seu esforço de convencimento, afirma diretamente a Trump: as negociações independentes de Washington com o Hamas, o Irã e os Houthis mostram que “Netanyahu não tem poder sobre você”.

Outras prioridades

Friedman explica ao republicano por que o primeiro-ministro israelense ‘não é amigo’ dos Estados Unidos. A prioridade de Netanyahu não é obter paz com mais vizinhos árabes, tampouco se beneficiar de uma maior segurança na região, afirma. ‘Sua prioridade é a anexação da Cisjordânia, a expulsão dos palestinos de Gaza e o restabelecimento dos assentamentos israelenses ali’.

Ele também destaca o quanto é vital aos Estados Unidos restabelecer a aliança EUA-Árabe-Israel da diplomacia Nixon e Kissinger, que “tem servido aos nossos interesses geopolíticos e econômicos desde então”, tornando o país “a potência global dominante na região”.

Netanyahu não é nosso amigo, afirma Friedman em carta a Trump
White House / Flickr

Toda a estrutura desta aliança, afirma, “dependia, em grande parte, do compromisso dos EUA e de Israel com uma solução de dois Estados de algum tipo”. Friedman, inclusive, menciona os esforços do próprio Trump, em seu primeiro mandato, e os do ex-presidente Joe Biden neste sentido.

Segundo ele, é fundamental abrir ‘um diálogo com a Autoridade Palestina para uma solução de dois Estados, com uma autoridade reformada, em troca da normalização das relações da Arábia Saudita com Israel’. Uma das consequências disso, observa, poderia ser um “tratado de segurança entre EUA e Arábia Saudita para contrabalançar o Irã e bloquear a China”.

‘Vietnã no Mediterrâneo’

O empecilho, no entanto, é Netanyahu.

Ele vem negando ‘a arquitetura de segurança e paz dos EUA para a região’, porque os ‘supremacistas judeus em seu gabinete lhe disseram que se fizesse isso, eles derrubariam seu governo’.

Friedman lembra que o primeiro-ministro de Israel vem impedindo a paz para evitar ser preso pelas múltiplas acusações de corrupção contra ele. “Netanyahu colocou seus interesses pessoais à frente dos de Israel e dos Estados Unidos”, aponta.

Ele também salienta os benefícios da normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, e traz um contundente repúdio ao plano israelense de re-invadir Gaza e concentrar a população palestina ‘em um canto minúsculo, com o Mar Mediterrâneo de um lado e a fronteira egípcia do outro, enquanto avança na anexação na Cisjordânia’.

Trata-se de uma ‘receita para uma insurgência permanente — o Vietnã no Mediterrâneo’, avalia.

Apelando para os ‘bons instintos de independência’ de Trump em relação ao Oriente Médio, o colunista arremata: ‘Siga-os. Caso contrário, seus netos judeus serão a primeira geração de crianças judias a crescer em um mundo onde o Estado judeu é um Estado pária’.

Leia a íntegra do artigo no The New York Times