Ao menos 124 mil dos 225.000 imigrantes e refugiados que chegaram em 2015 à Europa pelo mar Mediterrâneo desembarcaram na Grécia, principalmente nas ilhas de Lesvos, Kos, Quios, Samos e Leros, anunciou nesta sexta-feira (07/08) o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados).
De acordo com a agência da ONU, os desembarques na Grécia aumentaram 750% entre 1º de janeiro e o dia 31 de julho, com relação ao mesmo período do ano passado. Só no mês passado foram reportadas 50 mil chegadas à Grécia, o que representam 20 mil mais que no mês anterior.
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EFE
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Nessa circunstância, o Acnur fez um apelo ao governo grego para controlar o que classifica como “caos total” as condições de recepção dos estrangeiros. Além disso, o órgão destaca que a maioria dessas pessoas (63%) são sírios que estão fugindo de uma guerra civil que se arrasta há mais de quatro anos e que, portanto, têm direito à proteção internacional sob a condição de refúgio.
“Há um caos total nas ilhas. Após alguns dias eles são transferidos para Atenas; não há nada esperando por eles em Atenas”, declarou em entrevista a jornalistas Vincent Cochetel, diretor do Acnur para a Europa.
“Em termos de água, em termos de salubridade, em termos de assistência alimentar, é totalmente inadequado. Na maior parte das ilhas, não há capacidade de recepção, pessoas não estão dormindo sob qualquer forma de teto”, acrescentou.
Fragilidade grega
A situação ocorre em meio ao colapso econômico da Grécia, a crise interna entre o partido de esquerda governista Syriza e as negociações com credores acerca de um programa de terceiro resgate de quase 90 bilhões de euros, em troca de medidas de austeridade.
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Nesta manhã, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse também nesta sexta que a infraestrutura do país não consegue suportar milhares de imigrantes desembarcando. “Agora é hora de ver se a União Europeia é a União Europeia da solidariedade ou é a União Europeia que tem todos tentando proteger suas fronteiras”, declarou, segundo a Reuters.
“Temos consciência das limitações do governo grego, mas lhe pedimos que consiga lugares para os refugiados. Há muitos quartéis militares sem utilização ou terras não cultivadas… Qualquer coisa é melhor que nada”, rebateu o diretor do Acnur.
Situação dramática
Um caso que ilustra a precariedade da situação na capital grega é o de 500 imigrantes – principalmente famílias afegãs com crianças pequenas – que vivem em um estacionamento, reportou a Agência Efe.
“Distribuir comida ao povo em plena rua… Sem que haja pelo menos um sistema de recolhimento de resíduos não representa, em absoluto, condições de recepção apropriadas e torna mais difícil nosso trabalho”, argumentou Cohetel.
O responsável disse que em 30 anos trabalhando com o Acnur, durante os quais foi testemunha de várias crises de refugiados na África e Ásia, nunca viu uma situação tão dramática como a que aconteceu nas ilhas gregas, que visitou recentemente. “Isto é a União Europeia e é totalmente vergonhoso”, criticou.
Reprodução/MSF
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