Terça-feira, 22 de abril de 2025
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Quatro dos cinco partidos no Parlamento da Groenlândia formaram nesta sexta-feira (28/03) um novo governo em aparente demonstração de unidade diante das ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que manifestou pretensão em anexar o território autônomo da Dinamarca. 

A nova governança será comandada pelo líder do partido liberal Demokaatit, Jens-Frederik Nielsen. Ao ser nomeado o novo primeiro-ministro local, Nielsen pediu que as siglas deixassem as divergências políticas de lado e mostrassem união diante das interferências norte-americanas. Seu antecessor, Mute Bourup Egede, será responsável pelas questões econômicas. 

Apenas o partido pró-independência, o Naleraq, que ficou em segundo lugar nas eleições parlamentares realizadas no início deste mês, não fará parte da coalizão, após ter se retirado das negociações na semana passada.

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O novo governo, que representa 23 dos 31 assentos parlamentares, foi formalizada poucas horas antes da visita não solicitada do vice-presidente norte-americano, J.D Vance, com a sua esposa, Usha, a uma base militar dos EUA na ilha. De acordo com o premiê Nielsen, a chegada do vice de Trump “é desrespeitosa”.

Leon Neal/Getty Images
Groenlândia formou novo governo em aparente demonstração de unidade diante das ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de anexar território

J.D Vance na Groenlândia

O Força Aérea 2, com Vance e sua delegação a bordo, pousou por volta de 13h (pelo horário local) na Base Espacial de Pituffik, no noroeste da ilha. 

Posteriormente, em pronunciamento à imprensa, Vance insistiu que o governo norte-americano tem “algum interesse na Groenlândia” e afirmou que a segurança no Ártico “é um grande problema, e só vai ficar pior nas próximas décadas”.

Ao sustentar que a Groenlândia é, atualmente, menos segura do que há décadas, o vice dos EUA defendeu que a ilha “estaria muito melhor” sob a governança dos EUA “do que a Dinamarca”.

“Nosso argumento é realmente com a liderança da Dinamarca, que não investe na Groenlândia e não investe em sua arquitetura de segurança. Isso simplesmente precisa mudar. A política dos Estados Unidos é que isso mude”, disse o político.

O anúncio da visita do norte-americano à ilha nesta sexta-feira havia irritado a população e os políticos tanto na Groenlândia quanto na Dinamarca. O então primeiro-ministro local, Mute Egede, acusou Washington de interferir nos assuntos governamentais e definiu a viagem de Vance como “altamente agressiva”, considerando uma “provocação”.

Já o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, declarou que a agenda da delegação dos EUA é “inapropriada”.

Protestos 

De acordo com a RFI, nos últimos meses, centenas de groenlandeses têm protestado contra as interferências norte-americanas na ilha, exigindo respeito aos acordos internacionais e com slogans como “Ianques, vão para casa”. Em março, os principais partidos políticos da Groenlândia emitiram uma declaração conjunta condenando as ameaças de anexação de Trump.

Nas redes sociais, Egede afirmou que a Groenlândia “nunca será parte dos EUA” e que os groenlandeses “nunca serão americanos”. 

A Groenlândia se situa em um ponto estratégico no Ártico, região de crescente interesse geopolítico devido às mudanças climáticas, à exploração de recursos naturais, à vigilância aérea e de submarinos no hemisfério norte, e por se posicionar na rota mais curta para possíveis mísseis disparados da Rússia em direção aos EUA.

Embora tenha autonomia em assuntos internos, as políticas de defesa e de relações exteriores da Groenlândia são controladas pela Dinamarca. 

(*) Com Ansa e RFI