Guerrilha colombiana refaz estratégia em meio ao declínio da política de segurança do governo
Guerrilha colombiana refaz estratégia em meio ao declínio da política de segurança do governo
“A Secretaria Nacional das Farc e o Comando Central do ELN fazem chegar a todos os guerrilheiros e guerrilheiras das duas organizações nossa mais calorosa, combativa, fraterna e revolucionária saudação”.
Assim começa uma declaração conjunta dos líderes das duas principais guerrilhas colombianas, divulgada no último dia 16, na qual manifestam a vontade de parar de lutar entre si e se unir contra o inimigo comum, “o atual regime que o governo de Álvaro Uribe transformou no mais perverso fantoche dos planos do império”.
Alfonso Cano, que comanda as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) desde a morte de Manuel Marulanda, em 2008, está tentando trazer a guerrilha de volta às origens, com um trabalho mais político e mais próximo da população, segundo vários analistas.
A declaração conjunta das Farc e do Exército de Libertação Nacional ocorreu poucos dias após o importante centro de estudos colombiano Novo Arco Íris lançar seu relatório anual sobre a situação do conflito colombiano, agravando as previsões.
Os analistas do Arco Íris dizem que a política de segurança democrática do presidente Uribe, em seu oitavo ano de existência e após ter atingido o auge em termos militares em 2008, começou um declínio inevitável.
“O relatório tem dois eixos. Por um lado, as Farc foram reativadas, registrando 1300 ações militares, 30% a mais do que em 2008. Este grupo tinha 20 mil soldados no início do governo do presidente Uribe. Depois de sete anos, mesmo com uma ofensiva impressionante [do governo], podem estar entre 10 mil e 12 mil. O fato de terem se reativado militarmente mostra que conseguiram se adaptar ao novo cenário de guerra e voltar a incrementar suas ações”, afirma Luis Celis, do Novo Arco Íris.
Paramilitares em expansão
Por outro lado, diz ele, os paramilitares têm crescido em número e agora são quase 11 mil, estão presentes em quase 300 municípios. “Pode-se dizer que esta força heterogênea e não-centralizada é hoje a principal ameaça à vida, à convivência e a uma ordem que pretende ser democrática”.
O relatório é acompanhado por uma análise cuidadosa dos dados oficiais e de um trabalho de campo exaustivo. Analise-se o caso de Medellín, por exemplo. Estatísticas de 2009 mostram que os assassinatos cresceram 133% em relação a 2008. Isto se deve a disputas internas no cartel de Envigado, a estrutura paramilitar anteriormente controlada por Don Berna. Quando ele foi preso e extraditado para os Estados Unidos, teve início uma briga pelo controle da organização.
Segundo Celis, este é um bom exemplo da reativação do paramilitarismo em todo o país. Os dados confirmam o aumento no número de homicídios em todas as principais áreas urbanas da Colômbia: em Sincelejo, 61,7%; Cartagena, 40%; Cali, 38,4%; Santa Marta, 34,4%; Bogotá, 29,4%; Barranquilla, 25%.
Enquanto isso, o governo se defende por meio do ministro da Defesa, Gabriel Silva, que afirma que os ataques à segurança democrática ocorrem porque a temporada eleitoral está começando e acrescenta: “Hoje o país é, e continuará a ser, muito mais tranqüilo “.
O que é certo é que o governo está aprovando a prorrogação até 2014 do imposto de propriedade, a taxa especial que financia a guerra contra as Farc, junto aos 9 mil contribuintes mais ricos do país.
NULL
NULL
NULL