No momento em que todas as atenções no Quênia estavam voltadas para as manifestações contra o governo liberal de William Ruto e a forte repressão que provocou ao menos 22 mortes, o presidente do Quênia concluiu o envio de tropas para a Missão Multinacional no Haiti, aprovada no final do ano passado pelo Conselho de Segurança da ONU.
Forças de segurança do Quênia chegaram ao Aeroporto Internacional Toussaint Louverture, em Porto Príncipe, na terça-feira (25/06). O primeiro grupo de 200 policiais aterrissou na capital haitiana em avião da companhia aérea estatal Kenya Airways no momento em que a violência também tomou conta de Nairóbi durante protestos em massa desencadeados por aumentos de impostos, anunciados pelo governo queniano na última semana.
O envio de tropas quenianas para a missão enfrenta a resistência dos movimentos populares do país e também de organizações haitianas, signatárias do Acordo de Montana.
Os movimentos sociais e populares ligados à ALBA Movimientos e a Assembleia Internacional dos Povos (AIP) divulgaram na terça-feira (25/06) comunicado onde rejeitam a chegada de “nova intervenção militar estrangeira apoiada pela ONU em cumplicidade com os Estados Unidos”.
“Pelo menos 1 mil policiais chegam ao Haiti para supostamente acabar com a violência das gangues. O destacamento policial foi aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU e terá como consequências a desestabilização e o prolongamento da crise haitiana. Pedimos à comunidade internacional que rejeite qualquer tipo de interferência estrangeira no Haiti e que se respeite a autodeterminação do povo haitiano”, diz o comunicado.
O Quênia se comprometeu a mandar milhares de policiais ao Haiti para esta missão, da qual também se comprometeram a participar Bangladesh, Benin, Chade, Bahamas e Barbados e terá cerca de 2.500 agentes. Novas tropas devem chegar ao Haiti na quinta-feira (27/06), data em que novos protestos contra o governo de William Ruto foram convocados no país.
Financiamento dos EUA
Em pronunciamento na terça-feira (25/06), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se mostrou “muito agradecido aos países que prometeram seu apoio com pessoal e recursos financeiros para esta missão” e lembrou que os EUA são os principais financiadores da missão, com “mais de US$ 300 milhões [R$ 1,6 bilhão]” em fundos e “até US$ 60 milhões [R$ 325 milhões] em material”.
O Haiti “espera que esta missão multinacional seja a última que contribua para estabilizar o país para que possa renovar o seu pessoal político e retornar a uma democracia efetiva”, escreveu o primeiro-ministro Garry Conille, nomeado pelo conselho presidencial de transição do Haiti no final de maio.