No dia 10 de maio de 1981, François Mitterand é eleito à presidência da França pelo Front Comun, uma coalizão de socialistas e comunistas encerrando 23 anos da esquerda fora do poder.
WikiCommons
Após dois anos de difícil aprendizagem, os socialistas iriam se afastar de seus princípios e o Partido Comunista, incapaz de se adaptar à evolução das técnicas e dos costumes, se tornaria marginal.
Tinha menos de 30 anos na época da Libertação, quando ingressou nos gabinetes ministeriais. Fervoroso defensor da direita naqueles tempos, migraria apenas em 1971 para a esquerda, onde se destacou como o renovador de uma legenda morta. Tentou se eleger presidente duas vezes. Em 1965 diante do general De Gaulle e, em 1974, face a Valery Giscard d'Estaing.
Na campanha eleitoral de 1980, estava atrás nas pesquisas, todavia, tirando partido da impopularidade do presidente Giscard d'Estaing, consegue se eleger diante de Jacques Chirac, chefe do partido neogaullista.
Em “estado de graça” segundo suas próprias palavras, Mitterrand começava um “reinado” de 14 anos, comparável por sua duração aos governos de Henri IV, Luis-Filipe e Napoleão.
O primeiro gabinete ministerial, encabeçado por Pierre Mauroy, rompe violentamente com a política rígida de Raymond Barre, primeiro ministro entre 1976 a 1981. Surge um efêmero ministério do Tempo Livre e um ministério da Solidariedade Nacional. Quatro comunistas compõem o governo, para grande escândalo da oposição. Era a primeira vez, desde 1947, que o partido participava de um governo.
Reformas como a supressão da Corte de Segurança do Estado, tabelamento de preços durante seis meses, abolição da pena de morte e criação do imposto sobre grandes fortunas foram concluídas resolutamente.
Em 26 de novembro de 1981, Jacques Delors, ministro das Finanças, alarmado com o declínio da economia, pede uma pausa nas reformas. Mas elas prosseguem de acordo com as 110 promessas eleitorais. Segue a aprovação das 39 horas semanais de trabalho, de uma quinta semana de férias pagas, de estatizações de empresas, de descentralização regional e da redução de 65 para 60 anos a idade legal a aposentadoria.
Nas relações internacionais, após um discurso terceiro-mundista pronunciado no México, Mitterrand se engaja decididamente ao lado de Washington no conflito que o opõe à Moscou. Diante do Bundestag alemão, em 20 de janeiro de 1983, defende uma posição de firmeza frente aos soviéticos que instalaram mísseis SS20 dirigidos contra a Europa Ocidental em represália aos mísseis da OTAN, mirados contra a URSS. No Oriente Médio, toma partido em favor de Saddam Hussein na guerra que opõe o Iraque ao Irã.
Debilitado por um aumento de 25% nas despesas públicas, a economia mostra sinais de fraqueza. Em 11 de junho de 1982, é aprovado um plano de contenção. O “estado de graça” já pertencia ao passado. Os socialistas são derrotados nas eleições municipais de março de 1983.
No dia 22 de março de 1983, o presidente faz uma segunda escolha e impõe ao seu primeiro-ministro uma mudança radical “após dois anos de um programa marxo-keynesiano”.
No ano seguinte, em 17 de julho de 1984, o governo do premiê Pierre Mauroy renuncia, vítima de grandes manifestações nas ruas. Assume Laurent Fabius, de apenas 38 anos. É o fim das ilusões socialistas. O novo primeiro-ministro assina, em fevereiro de 1986, a Ata Única europeia, que previa a liberalização dos movimentos de capital.
O avanço do desemprego, a especulação financeira, os atentados terroristas, os escândalos de corrupção levam a uma clara mudança da opinião pública. Às vésperas das eleições legislativas de 1986, a derrota da esquerda parecia eminente. Os cartazes dos socialistas advertiam: “Socorro, a direita está voltando”. Como previsto, o resultado é uma vitória da direita.
Chirac torna-se primeiro-ministro de Mitterrand. É a primeira co-habitação da 5ª República entre um presidente e um primeiro-ministro de partidos opostos. Chirac e Mitterrand violam, logo no início, o espírito da Constituição de 1958, que previa um executivo forte, totalmente devotado ao presidente da República.
WikiCommons
No entanto, o presidente se fortalece sobre o premiê da direita. As indecências de Chirac levam, dois anos depois, em 1988, à reeleição triunfal de Mitterrand. Sob pressão da opinião pública, nomeia seu inimigo íntimo, Michel Rocard, à frente do governo e promete uma abertura ao centro.
Contrariando expectativas, o segundo turno das eleições legislativa de junho de 1988 dá ao presidente somente uma maioria relativa. Rocard pacifica a Nova Caledônia e cria um imposto para atender os “novos pobres”.
Em decorrência da Queda do Muro de Berlim, Mitterrand aceita a unificação das duas Alemanhas desde que os alemães reconhecessem as fronteiras de 1945 e abdicassem do marco alemão em favor de uma moeda europeia comum.
Em 1993, a esquerda sofre uma derrota esmagadora nas legislativas. A direita retorna ao poder com Édouard Balladur. Beneficiando-se de uma popularidade inesperada, acelera as privatizações e intervém contra os sérvios de Milosevic.
O segundo mandato foi marcado pela reorientação do projeto europeu a partir da ideia do mercado comum de bens e de capitais e da moeda única. Foi afetado também por alterações geopolíticas como a queda do Muro de Berlim, as guerras na Iugoslávia e o desmoronamento da África pós-colonial.
A presidência de Mitterrand termina num clima pessimista, pontilhado de desilusões, entre uma esquerda que perdera suas referências ideológicas e uma direita minada pelas disputas internas.
Eleito em maio de 1981, aos 64 anos, Mitterrand retorna ao México em 1982, queixando-se de fortes dores lombares. Os médicos diagnosticam um câncer de próstata já com metástase. A esperança de vida era de um ano.
O presidente jura ir até o fim de seu mandato. Guarda segredo sobre seu mal, disfarça os certificados médicos semestrais a que está obrigado a publicar e agradece ao doutor Claude Gubler, que cuidara com eficácia e discrição de sua filha Mazarine Pingeot e que o acompanharia até o fim.
Os mais próximos do presidente e o público só seriam informados da enfermidade no final de 1992, após o referendo sobre o Tratado de Maastricht. Nos últimos meses de seu mandato, em estado grave, tinha apenas algumas horas diárias de lucidez.
Também nesse dia:
1940 – Winston Churchill se torna primeiro-ministro do Reino Unido
1774 – Luis XVI assume o trono da França
1871 – França cede a Alsácia parte da Lorena à Alemanha
1968 – Eclode a “Noite das Barricadas” da revolta estudantil de Maio de 1968
NULL
NULL