“Os meus queridos gremistas saberão que é uma questão de política, pelo amor de Deus não misturem as coisas”, diverte-se o ex-zagueiro Hugo de León, campeão mundial pelo time gaúcho em 1983 e neste mês indicado a candidato à vice-presidência do Uruguai pelo conservador Partido Colorado – mesmo nome que ganham os torcedores do rival Internacional. Em português perfeito, ele disse em entrevista ao Opera Mundi que nunca almejou ao cargo e que integrará a chapa encabeçada por Pedro Bordaberry para que os compatriotas recuperem o respeito pelo grupo que fez 33 dos 37 presidentes do país.
Em 2004, os colorados sofreram sua mais acachapante derrota em meio à onda esquerdista na América do Sul. A coalizão Frente Ampla elegeu Tabaré Vasquez e deixou o candidato conservador Guillermo Stirling com apenas 10,4% dos votos. A necessidade de renovação das lideranças e de um apelo mais popular, diz De Leon, fez com que o partido o convidasse a disputar as eleições de outubro ao lado do filho de Juan Maria Bordaberry – presidente eleito em 1972 que transformou o Uruguai em uma ditadura ao fechar o Parlamento por cerca de quatro anos. Caberá a eles tirar o tradicional partido da condição de terceira força – atrás da Frente e do Partido Blanco (liberal).
“Vou disputar porque sou um militante colorado desde jovem, minha família é colorada e eu não posso fugir a esse chamamento. O partido passou por um período de debates importantes, renovou os seus quadros principais e em outubro vai ter uma participação nas eleições que equivale à história que temos, à tradição de fazer grandes presidentes do Uruguai”, disse o ex-futebolista na entrevista por telefone, pouco depois de um encontro com prefeitos em Montevidéu.
“Para mim todo dia é com a ansiedade de jogar um clássico, um Gre-Nal ou um Nacional-Peñarol”, afirmou, referindo-se aos maiores rivais de Porto Alegre e da capital uruguaia. “Por sermos jovens, eu tenho 51 e Pedro tem 49 anos de idade, talvez estejamos mais ansiosos. Mas isso também se deve ao entusiasmo que estamos vendo ressurgir. Eu mesmo fiquei muitos anos apático e em novembro do ano passado me dei conta de que essa eleição precisa ser nossa ressurreição. Participei da campanha de filiação e por causa disso acho que viram um potencial de unir os colorados. Quando fui convidado para ser candidato a vice-presidente não acreditei e passei dois dias sem dormir. Agora está melhor”.
Diplomacia
O ex-presidente Julio Sanguinetti diz que o ex-zagueiro, que chegou a se arriscar como treinador, é um homem “de firmes convicções democráticas”. O colega de chapa Bordaberry afirma que é “o mais preparado e mais capacitado” para ser seu companheiro por conta do êxito como jogador e como empresário. Os militantes colorados contam com o impulso dos dois jovens para enfrentar a máquina estatal e testar um discurso mais moderno para o Partido Colorado. “Muita gente me diz que sou um exemplo de êxito para os jovens, porque conquistei títulos importantes e sou da última grande época do futebol uruguaio. Isso me deixa muito envaidecido, é claro, e aumenta a responsabilidade”, comentou.
De Leon também é diplomático para comentar sobre os rivais José “Pepe” Mujica, ex-guerrilheiro tupamaru candidato a presidente pela Frente, e Luis Alberto Lacalle, ex-presidente que disputará pelo Partido Blanco. “São homens patriotas também, como é o presidente Tabaré Vasquez, em quem eu nunca votei. Mas acho que temos melhores condições de governar agora. Não vejo neles a mesma capacidade de passar pela crise econômica atual que tem Bordaberry. Eu os respeito, apesar das divergências”.
Perguntado sobre se sua escolha para a chapa ajudaria na interlocução com o Brasil, país onde fez grande parte da sua carreira como jogador, o ex-zagueiro de Grêmio, Corinthians, Santos e Botafogo, De León desconversou: “Há muitas lideranças importantes na América Latina e prestamos atenção em tudo que elas fazem. Mas não existe nenhum presidente vizinho em especial para o qual eu esteja olhando”.
Tricampeão da Taça Libertadores e do Mundial Interclubes (Nacional-80 e 88 e Grêmio-83), campeão uruguaio, brasileiro e argentino (River Plate), don Huguito, como também é conhecido, não planeja instituir, como fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, partidas de futebol na residência oficial caso seja eleito. “Com o estilo de jogo do Brasil, cheio de dribles e espaço, os jogadores não se machucam, mas se colocarmos isso aqui no Uruguai haveria muitas caneladas e gente saindo de campo lesionada”, brincou.
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