Imigração é tema central no último debate eleitoral na Alemanha
Faltando uma semana para o pleito, coalizão de centro direita União Democrata Cristã (CDU) lidera pesquisas de intenções de voto
A política imigratória e de segurança foram os temas de maior confronto no último debate realizado no domingo (16/02) entre os quatro principais candidatos ao cargo de chanceler da Alemanha. Ambas questões passaram a dominar a campanha após três ataques recentes realizados no país.
O pleito será neste domingo (23/02), mas, a uma semana da votação, um em cada três eleitores ainda não sabe em quem votar. A coalizão de centro direita União Democrata Cristã (CDU) lidera as pesquisas com cerca de 30% das intenções de voto.
Em segundo lugar está o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), com 20% dos eleitores. A seguir, os social democratas da coalização SPD, do atual chanceler Olaf Scholz, com cerca de 15%, e depois os Verdes, com 14%.
Caso o pleito confirme os percentuais das pesquisas, os social-democratas serão os que sofrerão a maior redução na sua bancada, enquanto a extrema-direita da AfD deve dobrar seu número de parlamentares.
Três partidos menores — a Esquerda, o Partido Democrático Liberal e a Aliança Sahra Wagenkneckt (BSW) — lutam para atingir os 5% que lhe garantiria presença no Parlamento. Entre eles, aparentemente só a Esquerda atingirá o percentual necessário. As pesquisas de intenção de voto estão estáveis há semanas.
Com relação aos imigrantes, os quatro partidos defendem restringir sua presença no país. A diferença está na radicalidade com que abordam a questão.
A CDU acusa o atual governo de realizar poucas deportações. Ao que Olaf Scholz disse que faria todo o possível para limitar a migração irregular, afirmando ter orgulho de ter reduzido o número de imigrantes em situação de irregularidade no país em 100 mil pessoas no ano passado.
A Universidade de Hohenheim analisou o programa dos partidos que concorrem às eleições parlamentares na Alemanha. Segundo os pesquisadores, os programas são mais curtos e mais difíceis de entender que o habitual, sobretudo o da AfD. Já o da CDU foi considerado o mais claro.
Merz tenta se distanciar da extrema-direita
O candidato da CDU, Friedrich Merz, tratou de se distanciar da candidata da extrema-direita, Alice Weidel, depois que seu partido foi criticado por votar junto com a AfD em temas de imigração no final de janeiro.
A aproximação foi vista como uma perigosa violação do “cordão sanitário”, o pacto que existe na Europa entre todos os demais partidos para impedir alianças com a extrema-direita, sobretudo na Alemanha. “A CDU não tem nada em comum com a AfD”, frisou Merz.
Scholz, atual chanceler e candidato dos social-democratas, lembrou do que aconteceu com a Alemanha quando outras legendas colaboraram com o partido nazista. Ele destacou que o presidente honorário da AfD, Alexander Gauland, classificou o período nazista de uma “pequena mancha em mais de mil anos de história alemã bem-sucedida” e inqueriu se Weidel concordava com isso, ao que ela não respondeu.
Weidel negou, indignada, que seu partido tivesse laços com o nazismo. Mas o chanceler alemão lembrou-a de quem é Björn Höcke, líder do AfD na Turíngia que ela caso vença pretende tornar ministro.
Höcke defende a homogeneização étnica da Alemanha e da Europa. Diversos historiadores identificam fascismo, racismo, revisionismo histórico, antissemitismo e linguagem nazista em suas declarações.
Scholz, Merz e o candidato do Partido Verde, Robert Habeck, criticaram a interferência dos Estados Unidos na campanha eleitoral alemã em favor da AfD. Isso por que, no final de semana, na Conferência de Munique, o vice-presidente norte-americano, JD Vance, falou contra as políticas europeias de cordão sanitário contra a extrema-direita.

Friedrich Merz é o favorito nas pesquisas eleitorais para ser o futuro chanceler da Alemanha
AfD elogia esforços de Trump para por fim à guerra
Com relação à Ucrânia, o líder dos Verdes apelou à unidade da Europa para defender a Ucrânia, enquanto a representante da AfD elogiou os esforços do presidente norte-americano Donald Trump de negociar com Vladimir Putin.
Weidel argumento que a Alemanha estaria muito melhor se assumisse o papel de mediador neutro nos conflitos internacionais, enquanto Scholz e Haberck defenderam um posicionamento inequívoco pró-Ucrânia. O líder dos Verdes disse que o conflito era um “ataque frontal à comunidade ocidental de valores, ao Estado de direito e à democracia”.
Reduzir impostos
Depois de muitos anos como o maior partido da oposição, a CDU quer retornar ao poder. Eles propõem reduzir a carga tributária para os empresários, cortar benefícios sociais e disponibilizar mais recursos para a defesa.
A extrema direita do AfD destaca “repatriar obrigatoriamente os estrangeiros para sua terra natal”, dificultar a aquisição da nacionalidade alemã e abandonar a participação do país na política europeia de asilo. O partido rejeita a União Europeia na sua forma atual, propõe a volta do marco como moeda própria e quer uma comunidade apenas para interesses econômicos comuns. Também quer suspender as sanções à Rússia.
Para os social-democratas do SPD, as questões sociais são a prioridade. Eles defendem pensões estáveis, um salário mínimo mais alto e a redução de impostos para as camadas de menor poder aquisitivo, além do seu aumento para as faixas de renda muito altas.
Com relação à migração, o partido defende que os trâmites de asilo sejam mais rápidos, mas rejeita procedimentos fora da União Europeia, como o que a Itália está implementando com o envio dos requerentes de asilo a centros de detenção fora do bloco europeu. O SPD apoia a Ucrânia, mas rejeita fornecer mísseis cruzeiro para o país.
Os Verdes defendem a renovação completa da infraestrutura alemã parcialmente sucateada e o barateamento da moradia e do transporte público. Também estão comprometidos com cortes de impostos para pessoas de baixa renda e aumento do salário mínimo. O partido que expandir as fontes de energia renováveis e fechar todas as usinas a carvão o mais rápido possível.
