Quarta-feira, 26 de março de 2025
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Os jornais mais importantes do mundo noticiaram nesta quarta-feira (19/02) a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado para assumir o poder depois que perdeu as eleições para o atual mandatário Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022. O italiano La Repubblica trouxe o título mais marcante: “Bolsonaro aprovou plano para envenenar Lula: Ex-presidente brasileiro é indiciado”.

Veículos maiores, como o francês Le Monde, o britânico The Guardian, o espanhol El País e o norte-americano The New York Times deram mais espaço à notícia, detalhando o contexto do crime, o histórico de ataques à democracia feitos pelo ex-presidente, assim como as provas acumuladas contra ele e os outros 33 acusados durante as investigações.

El País informa que, durante as investigações, o general reformado Braga Netto, candidato a vice-presidente, que foi derrotado junto com Bolsonaro, foi preso por obstruir as investigações. “Nunca antes um general quatro estrelas brasileiro foi preso”, destaca.

O periódico também enfatiza que Bolsonaro perdeu no resultado eleitoral mais apertado da história do Brasil e que ele já questionava sobre a credibilidade das urnas eletrônicas antes das eleições, “seguindo o roteiro de seu principal ídolo, o presidente Donald Trump”. El País lembra que o ex-candidato presidencial de extrema direita participou de duas reuniões para a preparação do golpe.

A primeira, antes das eleições, na qual encorajou seus ministros a espalhar desinformação sobre a segurança do pleito. Outra, depois da derrota e antes de Lula assumir oficialmente o Executivo, na qual reuniu os altos escalões das Forças Armadas no palácio para propor que aprovassem um decreto para impedir a posse do petista. Na ocasião, apenas a Marinha se dispôs a apoiar o golpe, enquanto os chefes do Exército e da Força Aérea se negaram.

Wikimedia Commons
Ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro é denunciado pela Procuradoria-Geral da República por tentativa de golpe, em 2022

O El País explica que o presidente Lula, “que passou mais de um ano na prisão por um caso de corrupção que depois foi arquivado”, prometeu repetidamente que os responsáveis pela tentativa de golpe seriam punidos, mas destacando sempre que defenderia “o direito dos acusados a um julgamento justo”.

O jornal também trouxe os comentários da presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleise Hoffmann: “Que eles nunca mais tentem cometer fraudes em eleições, depor governos legítimos e organizar assassinatos”.

O Le Monde informa que “a conspiração teve como líderes o presidente (Bolsonaro) e seu candidato a vice (Walter Braga Netto) que, aliados a outras pessoas, civis e militares, tentaram impedir, de forma coordenada, que o resultado da eleição presidencial de 2022 fosse aplicado”.

Diferencial da sua cobertura foi mostrar que, segundo as investigações, o plano falhou por “falta de apoio de altos oficias militares brasileiros”. A reportagem também revela o envolvimento de Bolsonaro na elaboração de um decreto para anunciar o estado de sítio e anular a eleição vencida por Lula. O documento em questão previa a convocação de novas eleições e a prisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Por sua vez, o britânico The Guardian destaca que o ponto “mais chocante” do caso seja constar, no relatório de 272 páginas do procurador-geral Paulo Gonet, que Bolsonaro “estava ciente de um suposto complô para semear o caos político assassinando autoridades de alto escalão, incluindo Lula e o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes”.

Semelhança com caso Trump

O New York Times considera que o plano “mais obscuro envolveu o envenenamento de Luiz Inácio Lula da Silva”, além de mencionar a articulação de um possível “assassinato a tiros de Alexandre de Moraes”.

Em sua análise, o periódico faz um paralelo entre as acusações de ilegalidade que envolveram o presidente Donald Trump em seu primeiro mandato e as de Bolsonaro. Diz que em breve os brasileiros talvez possam assistir a um “julgamento televisionado do Supremo Tribunal Federal que pode acabar fazendo de Bolsonaro seu terceiro presidente nos últimos oito anos a ser enviado para a prisão”.

De acordo com o veículo norte-americano, uma iminente prisão proporcionaria “um contraste marcante com os Estados Unidos”, uma vez que o ex-presidente brasileiro e Trump foram indiciados por acusações semelhantes para anular o resultado eleitoral, mas o caso do republicano acabou sendo arquivado quando retornou ao poder, enquanto Bolsonaro “está em seu ponto político mais fraco até agora”.

O jornal também critica que a Suprema Corte dos EUA decidiu pela imunidade de Trump por suas ações enquanto presidente, mas que o Judiciário brasileiro agiu “agressivamente” contra o adversário de Lula e a ala conservadora.