‘Esquecimento político’ ou ‘mais de 40 anos de prisão’, diz Guardian sobre Bolsonaro réu; veja repercussão
Jornal britânico repercute decisão da Justiça brasileira sobre plano golpista de ex-presidente e aliados; NYT, El País e outros também comentaram caso
(*) Atualizada em 26/03, às 14h40
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, nesta quarta-feira (26/03) aceitar a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) sobre a tentativa de golpe de Estado, tornando o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras sete pessoas réus numa ação penal. O jornal britânico The Guardian classificou que a decisão leva o “populista de extrema direita a enfrentar o esquecimento político e uma possível pena de prisão de mais de 40 anos”.
Segundo o periódico, Bolsonaro será julgado “por supostamente orquestrar um plano violento para tomar o poder por meio de um golpe militar”.
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O Guardian não deixou de mencionar que além de Bolsonaro, o STF também decidiu que outros sete envolvidos na trama golpista também devem ser julgados: os ex-ministros da Defesa de Bolsonaro, Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos; ex-ministro da Segurança, Anderson Torres; ex-chefe de espionagem Alexandre Ramagem; ex-ministro da Segurança Institucional, Augusto Heleno; e ex-assistente, Mauro Cid.
“Os homens são acusados de formar o núcleo de uma conspiração para manter Bolsonaro no poder depois que ele perdeu por pouco a eleição presidencial de 2022 para seu rival de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva”, informa o Guardian.
A notícia ainda compara o plano dos aliados de Bolsonaro para um golpe entre a eleição de outubro de 2022 e os protestos de apoiadores do ex-presidente na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, com a invasão ao Capitólio norte-americano em 6 de janeiro de 2021.
“Esses ataques foram supostamente incitados como parte de uma tentativa desesperada de devolver Bolsonaro à Presidência, contra a vontade pública, criando turbulência que justificaria uma intervenção militar”, afirmou o texto.

Quanto ao futuro, Guardian afirma que melhor chance de Bolsonaro de ter uma “ressurreição política”” é a eleição de algum aliado de direita no próximo pleito presidencial, em 2026
‘Brasil chegou perto de retornar a uma ditadura’
O jornal norte-americano The New York Times (NYT) considerou que a decisão tomada pelo STF nesta quarta-feira “marca um esforço significativo” para responsabilizar Bolsonaro por acusações de que “ele tentou efetivamente desmantelar a democracia do Brasil” por meio de um “amplo plano” de golpe de Estado.
O NYT associou o ex-presidente brasileiro ao que descreveu como uma “vasta conspiração para se agarrar ao poder” após a derrota eleitoral de 2022 contra o atual mandatário Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao mencionar que o julgamento resulta de uma investigação realizada em um período de dois anos, incluindo mandados de busca e apreensão em casas e escritórios, além de pressão e prisão de figuras próximas a Bolsonaro, o jornal destaca que todas as provas apresentadas revelaram “o quão perto o Brasil chegou de retornar a uma ditadura militar, quase quatro décadas em sua história como uma democracia moderna”.
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Bolsonaro liderou “tentativa de golpe contra Lula”
Já o espanhol El País afirma que Bolsonaro será julgado “por liderar uma tentativa de golpe contra Lula”, a quem se refere como “um líder histórico da esquerda” no Brasil.
“Não é incomum que um ex-presidente seja acusado ou julgado criminalmente no Brasil; o que é inédito é que ele será levado a julgamento por um golpe”, escreveu a colunista Naiara Galarraga Gortázar ao trazer um histórico dos ex-mandatários brasileiros: “dos oito presidentes que o Brasil teve desde o fim da ditadura (1964-1985), sete foram acusados de diversos crimes, mas apenas um, Lula, foi julgado e condenado por corrupção, tendo sido anulado em vários casos por vício processual”.
Falando sobre a continuidade do processo, o periódico espanhol disse que é esperado que o julgamento de Bolsonaro e seus aliados seja realizado ainda em 2025 “para não interferir indevidamente na campanha presidencial, marcada para outubro de 2026”.
Sobre o futuro político do ex-presidente, o El País citou o colunista da Folha de S. Paulo Hélio Schawartsman, mencionando “cautela antes de declarar que Bolsonaro está politicamente acabado”, uma vez que o próprio presidente Lula foi condenado, preso, mas voltou e reassumiu a Presidência.
Moraes é “inimigo jurado” de Bolsonaro
Ao noticiar que a maioria do STF aceitou a acusação de que Bolsonaro teria articulado um golpe de Estado, o periódico argentino Clarín deu ênfase aos crimes apresentados em denúncia pela PGR, no mês passado, que incluíam a tentativa de envenenar o atual presidente Lula e matar Alexandre de Moraes.
O jornal descreveu o ministro do STF, investigador do caso, como “inimigo jurado” de Bolsonaro, destacando que o juiz foi o primeiro a votar pela abertura de um julgamento criminal.
Clarín também se empenhou mostrar a reação do ex-presidente que, em redes sociais, durante as deliberações do Judiciário, afirmou que os magistrados “estão com pressa”. O veículo reproduziu as falas de Bolsonaro, que continuou se defendendo sob alegação de que o corpo judicial quer supostamente “impedir de chegar às eleições livres”.
“Decisão histórica em país ainda assombrado pela memória da ditadura”
Por sua vez, o jornal francês Le Monde descreve a decisão unânime como “histórica”, uma vez que as acusações feitas contra o ex-presidente brasileiro são “extremamente graves”.
“Em um país ainda assombrado pela memória da ditadura militar (1964-1985), o ex-presidente (2019-2022), que esteve ausente da audiência desta quarta-feira, diz ser vítima da ‘maior perseguição político-judicial da história do Brasil’, afirmou o veículo.
O periódico também ressaltou que Bolsonaro está inelegível até 2030 por causa de seus “ataques infundados às urnas eletrônicas”, e que o ex-mandatário “ainda espera ver essa sanção cancelada ou reduzida” para poder concorrer novamente ao pleito presidencial em 2026.
Entretanto, Le Monde lembra que “uma condenação por conspiração contra a democracia brasileira acabaria com essa esperança”.
“Tentativa frustrada de golpe”
O canal russo de notícias RT escreveu que “o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro será julgado pela tentativa frustrada de golpe realizada em 8 de janeiro de 2023, após a vitória presidencial do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
O jornal traz a informação de que o ex-mandatário de extrema direita “nega as acusações e se diz vítima de perseguição política”, mas “é apontado como um dos principais conspiradores da tentativa de golpe”.
Outros jornais do mundo, como Washington Post, BBC News e El Destape também repercutiram o julgamento de Bolsonaro.
