Índia e Paquistão trocam tiros enquanto ONU pede ‘máxima contenção’ contra escalada militar
Tensões aumentam após atentado que matou 26 civis na Caxemira, território reivindicado por Nova Délhi e Islamabade; governo paquistanês nega envolvimento no ataque
As forças da Índia e do Paquistão trocaram tiros ao longo da “Linha de Controle” que separa os dois países, durante a madrugada desta sexta-feira (25/04). Os confrontos ocorreram em meio ao apelo das Nações Unidas (ONU), que pedem “contenção máxima” entre as nações temendo uma escalada militar mais ampla.
O funcionário do governo da Caxemira administrada pelo Paquistão, Syed Ashfaq Gilani, confirmou o tiroteio à agência de notícias AFP.
“Há disparos no vale de Leepa durante a noite, mas não há disparos contra a população civil. As escolas seguem abertas”, relatou Gilani.
As tensões entre Nova Délhi e Islamabade aumentaram desde o atentado ocorrido na cidade de Pahalgam, na Caxemira, na terça-feira (22/04), ocasião em que homens armados atiraram contra civis em um resort, matando 26 pessoas.
Posteriormente, o ataque foi reivindicado pela Frente de Resistência (TRF), um grupo armado da região montanhosa que surgiu em 2019 após o governo da Índia revogar a autonomia da disputada Caxemira. Entretanto, as autoridades indianas passaram a acusar o Paquistão de suposto envolvimento com o grupo, alegação que o governo paquistanês nega.
Segundo explica a emissora catari Al Jazeera, Nova Délhi entende a TRF como uma “ramificação — ou apenas uma fachada” — do Lashkar-e-Taiba, grupo armado sediado no Paquistão.

Nasir Kachroo/NurPhoto/picture alliance
Na noite anterior, o ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Asif, concedeu entrevista à Al Jazeera, durante o qual negou veementemente as alegações de envolvimento de Islamabade no ataque.
“Acusar o Paquistão não resolverá o problema” da “ocupação” indiana na Caxemira, disse a autoridade. “A infiltração de alguns grupos armados não pode ser possível”, acrescentou, destacando que a Linha de Controle que divide os países em disputa é fortemente vigiada.
A nova crise diplomática voltou a colocar as duas potências nucleares à beira de um conflito pelo controle da região. A Caxemira está dividida entre a Índia e o Paquistão desde sua independência em 1947, com ambos reivindicando o território, mas governando partes separadas dele.
O incidente também levou Nova Délhi a retirar o histórico Tratado das Águas do Indo, firmado em 1960 pelas duas nações que compartilham o mesmo sistema fluvial, prevendo quais rios cada país controla.
Acusando o vizinho de “promover terrorismo transfronteiriço”, o governo do primeiro-ministro Narendra Modi ainda ordenou que todos os cidadãos paquistaneses deixem a Índia até 29 de abril, uma decisão que não apenas suspende o processamento dos novos vistos, como também cancela as autorizações já concedidas.
Em retaliação às acusações, o lado paquistanês interrompeu um projeto de irrigação de canal e fechou seu espaço aéreo para companhias aéreas indianas. O governo do Paquistão também suspendeu as relações comerciais com a Índia, inclusive por meio de países terceiros, e interrompeu a emissão de vistos especiais para cidadãos indianos.
