Em inspeção realizada ontem (14/11), a polícia indiana encontrou grandes quantidades de fosfato de zinco, substância utilizada na produção de veneno contra ratos, em uma das fábricas onde foram produzidos os antibióticos administrados às mulheres que passaram pela esterilização em massa realizada no último sábado (08/11) no centro da Índia. As cirurgias de laqueadura foram feitas em um acampamento sanitário no estado de Chhattisgarh e causaram várias complicações de saúde às mulheres, com a morte de 15 delas até este sábado (15/11).
Agência Efe
Dezenas de mulheres permanecem internadas em hospitais em Bilaspur
Segundo o jornal britânico The Guardian, autoridades indianas acreditam que as mulheres tenham morrido por envenenamento. “Não observamos infecção, mas sim reações a envenenamento em algumas pacientes”, declarou Ashutosh Tiwari, secretário da Associação Médica Indiana em Bilaspur, onde as mortes ocorreram. “Falência renal e queda de pressão foram observadas em todas as pessoas que tomaram estes remédios. O que elas receberam era veneno, não antibiótico”, vaticinou. O médico afirmou também que outros dois pacientes homens tiveram falência renal e morreram após tomarem os mesmos antibióticos que as mulheres nesta semana.
De acordo com a BBC, os proprietários de duas fábricas onde foram produzidos alguns dos remédios administrados às mulheres também foram presos esta semana, após a polícia encontrar indícios de que os medicamentos foram destruídos antes da inspeção.
NULL
NULL
Como observado pelo The Guardian, a alegação de envenenamento tira o foco das condições precárias em que as cirurgias de laqueadura foram realizadas. O médico R.K Gupta operou, em apenas cinco horas, 83 mulheres, no âmbito de um programa estatal de esterilização para reduzir o crescimento populacional. O cirurgião foi preso na última terça-feira (12/11), e nega a acusação de negligência.
Os resultados dos exames post-mortem e dos testes com as pílulas que as mulheres receberam ainda não foram divulgados. Cerca de 20 mulheres que participaram da esterilização continuam internadas em estado grave.
Programa de esterilização
As autoridades de saúde na Índia realizam campanhas regulares de esterilização voluntária para conter o crescimento demográfico. As mulheres que se apresentam voluntariamente para realizar a cirurgia recebem 1.400 rupias (US$ 25) do governo. “O pagamento é uma forma de coerção, especialmente quando você está lidando com comunidades marginalizadas”, disse Kerry McBroom, diretor da Iniciativa dos Direitos Reprodutivos da Rede de Direitos Humanos, ao site The Guardian.
Entre 2013 e 2014, mais de 4 milhões de cirurgias deste tipo foram realizadas no país, de acordo com dados do governo. De 2009 a 2012, o governo indenizou 568 famílias devido às mortes após as esterilizações.