Em meio à crise econômica mundial e às incertezas quanto à saúde do presidente Hugo Chávez, a Venezuela vem se convertendo em um verdadeiro “refúgio” para investidores internacionais. Os títulos de dívida do país estão entre os de melhor performance nos mercados emergentes este ano. Um índice do banco J.P. Morgan para os títulos em dólar da Venezuela subiu 9,5% desde dezembro, mais de duas vezes o retorno de 3,67% de um índice de títulos mais amplo de mercados emergentes do banco.
A explicação, segundo fontes citadas pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, não é uma só. Uma delas é que o mercado venezuelano é bastante pequeno e qualquer movimento de capital o movimenta. Russell Dallen, sócio-gerente da Caracas Capital Markets, na capital venezuelana, disse que já recebeu dezenas de perguntas de investidores estrangeiros sobre como investir no mercado acionário do país. “Investidores internacionais estão vendo que poderiam ter dobrado seu dinheiro”, explicou Dallen ao WSJ.
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Outro fator para a atração de investidores é o fato de as empresas do país serem bem administradas. O país tem “ótimas companhias, mesmo que estejam numa vizinhança ruim”, pontuou Dallen. Outro elemento é uma possível desvalorização da moeda local, já que o câmbio oficial do bolívar, de entre 4,30 e 5,30 unidades por dólar, é a metade do aplicado no mercado negro. Uma moeda mais fraca poderia ajudar exportadores de petróleo, que negociam em dólares. Por outro lado, uma desvalorização poderia também aumentaria as pressões inflacionárias, conforme os custo de bens importados aumentam.
Finalmente, pontua o WSJ, há investidores que apostam na morte de Chávez — que se recupera de um câncer — e a chegada de um governo mais centrista. “O mercado vê uma mudança de governo muito favoravelmente”, disse ao jornal Francisco Ghersi, sócio da firma de administração de recursos Knossos Asset Management, de Caracas, que administra 25 milhões de dólares investidos em ativos venezuelanos em dólares. Atraída por rendimentos altos, a Knossos tem aumentado a sua carteira de títulos de dívida emitidos pela petrolífera estatal PDVSA (Petróleos de Venezuela SA), que são vistos essencialmente como dívida do governo.
De acordo com o WSJ, alguns investidores temem que uma transição desordenada para um novo governo após as eleições de outubro poderia provocar uma reação na base de suporte do governo entre militares, e entre os milhões de venezuelanos pobres que dependem de programas sociais. Além disso, há receios de que um novo governo poderia questionar direitos de propriedade, um ponto sensível entre investidores estrangeiros na Venezuela.
“Nós somos vendedores na alta venezuelana”, disse ao WSJ Bryan Carter, vice-presidente da Acadian Asset Management em Boston, que administra um fundo de 65 milhões de dólares que investe em mercados emergentes. “[Henrique] Capriles simplesmente não terá o apoio popular para tomar decisões difíceis, como deixar a taxa de câmbio flutuar.”