Uma semana após o cancelamento da viagem que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, faria à América do Sul, o governo iraniano, por meio do porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores Hassan Qashghavi negou que o episódio tenha sido influenciado por pressões do Brasil. Ahmadinejad deveria realizar em 4 de maio uma viagem latino-americana, que o levaria primeiro ao Brasil e depois à Venezuela.
“A viagem não foi suspensa pela parte brasileira, como foi dito. Foi o Irã que cancelou a visita devido às ocupações do presidente”, ressaltou Qashghavi, durante sua entrevista coletiva semanal.
Mesmo antes da data prevista para sua chegada, a visita de Ahmadinejad levou a protestos das comunidades gays, judaicas e evangélicas diante das polêmicas do presidente iraniano. De acordo com a Folha de S.Paulo, no governo brasileiro o cancelamento da visita chegou a irritar alguns setores do Itamaraty, mas foi considerado “um alívio” pelo ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
O porta-voz ministerial do Irã reiterou que os laços entre o país e a América Latina, e especialmente com o Brasil, “são crescentes” já que os dois são Estados com grande influência em suas respectivas regiões.
Ahmadinejad, ao lado de uma fotografia do líder da Revolução de 1979, aiatolá Khomeini, dá entrevista após registrar sua candidatura – Fotos: Abedin Taherkenareh/EFE – 08/05/09
Motivos
Embora o porta-voz não tenha manifestado os motivos que levaram o presidente iraniano a adiar a viagem, analistas apontaram que a agitação política devido às eleições presidenciais em 12 de junho talvez tenham influenciado sua permanência no país.
“Por que ele cancelou a viagem é impossível afirmar com certeza, mas se falarmos em ‘timing’, era realmente um mau momento para promover essa visita, ainda mais com a forte oposição no país. O povo não entende em um primeiro momento a importância do contato e vê como um desperdício de dinheiro. Também não entende a ausência por tanto tempo em um momento crucial político. Em viagem, ele poderia estar exposto a uma série de ataques da oposição”, disse em entrevista ao Opera Mundi no dia 6 de maio o jornalista iraniano Hooman Madj.
A principal oposição a Ahmadinejad, político conservador, são os reformistas, representados nessas eleições por Mir-Hossein Mousavi, primeiro-ministro do Irã de 1981 a 1989. O político critica o presidente Ahmadinejad por duvidar do Holocausto, afirmando que a imagem do país no exterior é danificada com a acusação.
O candidato reformista, Mir-Hossein Moussavi, discursa na Universidade de Arak, em Teerã
Fobia ao Irã
Hassan Qashghavi também falou que os esforços de “inimigos” em criar uma fobia em relação ao Irã para prejudicar suas relações com os países árabes é uma política fadada ao fracasso.
De acordo com o representante, não há risco de que uma aproximação entre Irã e Estados Unidos prejudique o relacionamento de seu país com os Estados árabes, já que, segundo ele, o Irã e esses países têm em comum dois fatores fundamentais: o Islã e a vizinhança.
“Os Estados Unidos não têm os dois. É por isso que temos boas relações comerciais e políticas com os países árabes, enquanto não temos relações com eles há 30 anos”, afirmou.
Os laços diplomáticos entre Estados Unidos e Irã estão rompidos desde abril de 1980, após a Revolução Islâmica fundar uma república populista teocrática islâmica e tirar do poder o último xá da Pérsia, o pró-ocidente Mohammed Reza Pahlevi. A atual administração americana, segundo palavras do presidente Barack Obama, estaria disposta a estender a mão ao Irã, se este abrir o punho.
A comunidade internacional, com Estados Unidos, Israel e União Européia à frente, acusa o Irã de esconder, sob seu programa nuclear civil, um projeto militar paralelo cujo objetivo seria a aquisição de um arsenal atômico.
Qashghavi insistiu em que não é possível comparar as atividades nucleares de Irã com as de Israel. “As de nosso país são pacíficas, enquanto o regime sionista, como confessaram suas próprias autoridades, tem 200 ogivas nucleares.”
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