Cerca de 61 milhões de iranianos são convocados às urnas nesta sexta-feira (05/07) para o segundo turno das eleições presidenciais, que opõem o candidato reformista Massoud Pezeshkian ao ultraconservador Saïd Jalili. O pleito foi organizado às pressas para substituir o presidente Ebrahim Raissi, morto em um acidente de helicóptero em 19 de maio.
A votação começou às 8h (1h30 em Brasília) nas 58.638 seções espalhadas pelo país. As eleições são acompanhadas de perto no exterior – o Irã, potência no Médio Oriente, está no centro de diversas crises geopolíticas, desde a guerra em Gaza até à questão nuclear, na qual se opõe aos países ocidentais.
As eleições decorrem num contexto de descontentamento popular, em particular com o estado da economia, atingida por sanções internacionais. A participação no primeiro turno, há uma semana, atingiu 39,92% de 61 milhões de eleitores, o nível mais baixo em 45 anos de República Islâmica.
“Ouvi dizer que o entusiasmo e o interesse das pessoas estão maiores do que antes. Rezo a Deus para que assim seja”, disse o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, ao votar em Teerã.
Segundo imagens da televisão estatal, os eleitores fizeram fila em frente às seções eleitorais em Saveh (centro) e Kerman (sul), enquanto na capital havia menos iranianos nas urnas durante a manhã, segundo correspondentes da agência AFP. Figuras da oposição no país e instalados no exterior pediram o boicote à votação, julgando que os campos conservador e reformista representam as duas faces da mesma moeda.
Quem são os candidatos no Irã?
O deputado reformador Massoud Pezeshkian, 69 anos, chegou em primeiro lugar no primeiro turno, com 42,4% dos votos, contra 38,6% de Jalili. Pezeshkian defende um Irã mais aberto ao Ocidente e recebeu o apoio dos ex-presidentes Mohammad Khatami, reformista, e Hassan Rouhani, de linha moderada.
O ultraconservador Saïd Jalili, 58 anos, é conhecido pelas suas posições inflexíveis contra as potências ocidentais. Recebeu o apoio de Mohammad-Bagher Ghalibaf, o presidente conservador do Parlamento, que ficou em terceiro lugar com 13,8% dos votos no primeiro turno.
Em dois debates, os candidatos abordaram as dificuldades econômicas do país, suas relações internacionais, a baixa participação eleitoral e as restrições do governo à internet.
“As pessoas estão descontentes conosco”, disse Pezeshkian. “Quando 60% da população não participa [da eleição], significa que há um problema” com o governo, argumentou.
Para Ali, um estudante de 24 anos que preferiu não se identificar, a melhor opção na urna é Pezeshkian, que ele acredita poder “abrir o país ao resto do mundo”. O candidato reformista, que afirma a sua lealdade à República Islâmica, apelou a “relações construtivas” com Washington e os países europeus para “tirar o Irã do isolamento”.
“A validação da candidatura de Pezeshkian foi talvez uma tentativa do regime iraniano de mostrar que também poderia aceitar diferentes candidatos que viessem de fora do sistema. Talvez o regime também estivesse convencido de que o reformador, que também é um personagem monótono e pouco carismático, não teria sucesso”, analisa o historiador especializado em Irã, Jonathan Piron, entrevistado pela RFI. “Para o regime no poder, foi uma chance de mostrar que ainda tem legitimidade entre a população, apesar dos protestos que são bastante regulares no Irã”, complementa.
Candidato ultraconservador
Negociador sobre a questão nuclear entre 2007 e 2013, o Jalili se opôs firmemente ao acordo concluído em 2015 entre o Irã e as potências mundiais, incluindo os Estados Unidos, que impôs restrições à atividade nuclear iraniana em troca do alívio das sanções econômicas impostas ao país.
As negociações nucleares estão atualmente num impasse, após a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018, que impôs novamente restrições econômicas severas a Teerã.
Jalili representa “a melhor opção para a segurança do país”, disse Maryam Naroui, 40 anos, durante um comício eleitoral. O candidato ultraconservador é atualmente um dos dois representantes do aiatolá Khamenei no Conselho Supremo de Segurança Nacional, o mais alto órgão de segurança do país.
“No passado, Jalili teve posturas agressivas, com discursos muito virulentos, inclusive sobre o tema da repressão interna. Se ele fosse eleito, poderíamos nos encontrar com uma personagem que poderia reforçar ainda mais o isolamento do Irã”, afirma . “Estas declarações poderiam frustrar parceiros como a Rússia e a China, mas talvez também isolar o Irã nas parcerias que Ebrahim Raïssi tentou relançar com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos”, ressalta.
Poderes limitados do presidente
O seu adversário pede uma solução para a persistente questão do uso obrigatório do véu para as mulheres, uma das causas do vasto movimento de protesto que abalou o país no final de 2022, após a morte de Mahsa Amini, detida por descumprir o rigoroso código de vestimentas em vigor.
Qualquer que seja o resultado da votação, a eleição deverá ter repercussões limitadas, já que os poderes do presidente são limitados: cabe a ele aplicar as principais linhas políticas definidas pelo aiatolá Ali Khamenei, guia supremo, que é o chefe de Estado.
Os resultados da votação devem ser divulgados no sábado (06/07).