Em meio à escalada da crise no Iraque com a atuação do grupo sunita EILL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), o ministro das Relações Exteriores iraquiano, Hoshiyar Zebari, pediu nesta quarta-feira (18/06) que os Estados Unidos realizem ataques aéreos contra a organização extremista.
Efe
Voluntários xiitas se voluntariaram para combater com forças do governo iraquiano após apelos do aiatolá Ali al Sistani
Segundo o chanceler iraquiano, o reforço de Washington estaria baseado no acordo de segurança internacional para conter o grupo que, nos últimos dias, tomou importantes cidades do norte do país árabe e se aproxima cada vez mais da capital, Bagdá. Apesar de afirmar que as forças iraquianas conseguiram “repelir os ataques”, Zebari admitiu que “a solução militar por si só não é suficiente” e que “são necessárias soluções políticas radicais”.
Por sua vez, os Estados Unidos culparam as atitudes do premiê iraquiano Nouri al-Maliki pela tensão no país. Para o general Martin Dempsey, chefe de estado das Forças Armadas norte-americanas, há pouco que os EUA possa fazer “para compensar o grau no qual o governo do Iraque falhou”.
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Em resposta, Maliki, reconheceu hoje que a polarização política entre sunitas e xiitas foi “um ambiente adequado” para a atual crise, mas garantiu que derrotará o “terrorismo” e que suas tropas só sofreram “um revés, não uma derrota”. O primeiro-ministro iraquiano insistiu que o governo “não está em perigo”.
Reforçando o discurso do premiê xiita, o Exército do Iraque afirmou nesta quarta que frustrou a tentativa dos insurgentes de tomar a refinaria de Biji, a maior do país, e que retomou o controle da estratégica cidade de Tal Afar, no norte do país. Apenas hoje, pelo menos 21 extremistas morreram em enfrentamentos com as forças iraquianas.
Efe (arquivo)
Exército iraquiano assegurou hoje que retomou a refinaria de Biji – a maior do país
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O conflito sectário dividiu a opinião de clérigos. A pedido do governo, a máxima autoridade xiita no Iraque, o aiatolá Ali al Sistani, clamou que os iraquianos peguem suas armas, o que levou ao recrutamento de milhares de voluntários. Já os clérigos sunitas do Iraque acusaram as forças do governo de executarem cem presos em duas prisões das províncias de Ninawa e Diyala. Para a Associação dos Ulemás, é preciso “moderação e não reciprocidade” à oposição, pois se tratam de crimes passíveis de punição pelo direito internacional e só aprofundam mais o conflito sectário.
Repercussão em outros países
O chefe de gabinete do presidente do Irã, Mohamad Nahavandian, pediu que o Ocidente se abstenha de uma possível intervenção no Iraque. “As autoridades e o povo iraquiano é que devem encontrar uma solução. Não há outra alternativa”, declarou Nahavandian hoje. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, disse hoje que o Irã não vai hesitar em defender os locais sagrados dos muçulmanos xiitas no Iraque contra “assassinos e terroristas”.
Já o presidente da opositora Coalizão Nacional Síria (CNFROS), Ahmed Yarba, avisou nesta quarta que a expansão do grupo radical EIIL pelos territórios da Síria e do Iraque é só “a ponta do iceberg”. “Vamos esperar que o EIIL estabeleça um emirado em dois países violando sua soberania?”, questionou Yarba.
Efe
Refugiados em campo em Mossul, segunda maior cidade iraquiana: conflito já deslocou meio milhão de civis
Para o líder opositor sírio, é tarde demais para advertências, pois “o desastre já aconteceu” e as ameaças das quais alertou no passado “são agora uma realidade que põe em risco toda a região, com implicações na segurança e na paz mundial”. Yarba ainda criticou a incapacidade de Maliki no controle da fronteira com a Síria, exemplificada com a fuga de 2 mil detidos.
No Reino Unido, o premiê David Cameron declarou nesta quarta que a consolidação de um “governo islâmico radical” no Iraque pode significar uma ameaça de atentados terroristas contra o Estado insular. Cameron ainda informou que o país aumentará de dois milhões de libras (R$ 7,63 milhões) para até cinco milhões de libras (R$ 19 milhões), a ajuda humanitária para os deslocados pela violência no Iraque. “Acho que seria um erro pensar que a única resposta para estes problemas é um ataque duro, com intervenção direta. Sabemos que isso pode criar problemas”, acrescentou o premiê, durante sessão parlamentar.
Entenda o caso
Com o intuito de criar um emirado islâmico no Iraque e na Síria, insurgentes jihadistas sunitas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) avançaram e tomaram algumas das principais cidades do Iraque nos últimos dias. A crise instaurada pelo grupo, que é braço da rede terrorista Al Qaeda no país, chamou atenção da comunidade internacional.
Após especulações de que poderiam discutir com o Irã a coordenação de uma ação militar conjunta no Iraque, os EUA afirmaram na segunda (16/06) que não consideram uma parceria bélica com Teerã como parte dos esforços de contenção da violência causada pela crise no vizinho Iraque.
Matt Bors
Na sexta (13/06), o governo do Iraque anunciou um plano de segurança para defender a província de Bagdá de um potencial ataque de jihadistas sunitas, que avançam rumo à capital após conquistarem Al Dujail, a apenas 60 km da sede administrativa iraquiana.
Ainda na sexta passada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama disse que fará sua parte para ajudar a interromper o avanço dos extremistas no país, mas pediu às autoridades de Bagdá um esforço para resolver politicamente a crise. O líder norte-americano acrescentou que não enviará tropas para resolver a crise no local.
Na terça (10/06), a segunda maior cidade do país, Mossul, localizada a cerca de 400 quilômetros ao norte de Bagdá, foi controlada pelos jihadistas. Eles também assumiram o controle de várias localidades na província petrolífera de Kirkuk, no norte do país, onde colocaram bandeiras negras nos edifícios oficiais ocupados.Como consequência dos combates, 500 mil pessoas foram forçadas a abandonar a cidade.
Efe
Xiitas fazem passeata nos arredores de Bagdá (capital): jovens também pegam armas e vão às ruas