Irmandade Muçulmana é alternativa real à crise no Egito, diz analista britânico
Irmandade Muçulmana é alternativa real à crise no Egito, diz analista britânico
“Abracem a Irmandade Muçulmana”. Esta foi a mensagem que Ed Husain, membro do Conselho de Relações Exteriores (CRF) dos Estados Unidos – organização independente criada após a Primeira Guerra Mundial – transmitiu aos egípicios durante uma teleconferência organizada pelo Conselho nesta quarta-feira (02/02).
Para Husain, que também é ativista islâmico e autor do livro The Islamist (2007), após a onda de protestos contra o presidente do país, Hosni Mubarak, a organização islâmica fundamentalista surge como principal alternativa de mudança política no Egito, a despeito de seus preceitos religiosos.
“Sem dúvida a fé é um dos pilares da Irmandade Muçulmana, mas o grupo tem se mostrado bastante articulado a ponto de não priorizar a mentalidade religiosa caso chegue ao poder. Isso porque sabem que a maioria da população quer que o Alcorão seja uma ferramenta religiosa e não política”, argumentou.
Isobel Coleman, membra do CRF para política externa, que também participou da teleconferência, acredita que “este é apenas o início de uma grande revolução” e responsabiliza a Irmandade Muçulmana por grande parte do processo. Para ela, a organização da população, a desistência de Mubarak em concorrer a uma reeleição e sua saída do cargo de presidente, bem como a eleição de um novo líder, são méritos da população egípcia, “que não está lutando por nada além de representatividade”.
“Cabe aos egípcios determinarem a continuidade deste processo. Atualmente vejo a Irmandade Muçulmana como uma alternativa perigosa, já que representam o fundamentalismo islâmico e alguns de seus valores não são compatíveis com a democracia”, disse.
Leia mais:
Situação piorou após discurso de Mubarak, diz professor da USP que está na capital do Egito
Embaixador brasileiro no Cairo não crê em transição tranquila de poder no Egito
Líderes europeus pedem transição imediata de governo no Egito
Uma nova verdade desponta no mundo árabe
Mubarak entre a repressão e a concessão
Euforia, banho de sangue e caos no Egito
EUA
A possível chegada da Irmandade Muçulmana ao poder preocupa principalmente os norte-americanos, que temem que a organização passe a ameaçar diretamente os interesses dos EUA, que têm no Egito um importante aliado na região.
Na quarta-feira, em entrevista a agência de notícias Associated Press, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Philip Crowley, disse que o governo norte-americano teme pelo respeito ao processo democrático no Egito e colocou como condição para o diálogo com a organização islâmica o compromisso com a não violência e com o respeito pela lei.
“Os EUA reconhecem que a Irmandade Muçulmana pode ter um papel importante na transição de poder se concordar com um processo democrático e pacífico”, afirmou.
Para Coleman, porém, os norte-americanos não podem ignorar a Irmandade Muçulmana seja qual for seu posicionamento daqui em diante. “É inegável a importância da participação da organização neste processo político, assim como é inegável reconhecê-los tanto como oposição, quanto futura possibilidade de governo”, afirmou.
Apesar dos temores, a Irmandade Muçulmana tem se mostrado aberta e maleavel, segundo Husain. “O próprio Mohammed Badie, líder da organização e um dos membros de sua ala conservadora, rechaçou a noção de um Estado islâmico e garantiu que seu objetivo é criar uma administração democrática com objetivos politicos”, contou o ativista.
Em sua última declaração pública o grupo afirmou que pretende utilizar o modelo turco como exemplo. “Aspiramos um Estado laico, mas que tenha no governo um partido islâmico moderado. É um erro dizer que, se chegarmos ao poder vamos impor um Estado islâmico ou uma teocracia como o Irá”, afirmou a organização por meio de Yamal Hanefi, membro da Associaçnao de Advogados da Irmandade Muçulmana.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL
