Isabel Allende fala de novo livro e critica Trump': 'se virar uma ditadura, vou embora'
Escritora chilena mora há 38 anos na Califórnia e falou sobre viver nos Estados Unidos sendo mulher, imigrante e latina
Considerada uma das autoras mais consagradas da literatura contemporânea, Isabel Allende é a escritora em língua espanhola mais vendida no mundo, além de ser uma das mais traduzidas da história. A chilena, que esteve em Madri para o lançamento do seu novo livro, falou sobre como é viver na era Trump sendo mulher, imigrante e latina nos Estados Unidos.
A autora que mora na Califórnia há 38 anos falou que se ela sentir que a situação em relação aos imigrantes piore, irá embora: “se em algum momento a coisa ficar ruim mesmo, como eu acho que vai acontecer, terei que ir embora. Não quero viver em uma ditadura, não quero viver sob um governo autoritário. Por essa razão eu saí do Chile. Não gostaria de ter que começar do zero novamente, mas se esse momento chegar, não me sinto tão velha como para não recomeçar de novo em outro lugar”, desabafou.
Isabel Allende diz que atualmente os latinos são tratados como criminais nos EUA e criticou a postura do governo em relação às deportações em massa, defendendo que essa medida atinge quem estava “vivendo legalmente no país”. “Deportam essas pessoas para uma prisão horrível em El Salvador e não para os seus lugares de origem. Ao mesmo tempo ele convida pessoas da África do Sul a morar nos EUA como refugiados mas essas pessoas não são realmente refugiadas porque não estão fugindo de nada, mas são brancos. Atualmente existe um nacionalismo cristiano branco que é absurdo e muito perigoso nos EUA”, disse.
Novo livro de Isabel Allende
O legado de Allende é enorme, ela já escreveu mais de 30 novelas e também livros infantis. Uma das suas obras mais consagradas foi a primeira, A casa dos espíritos (1982), que acabou virando até filme.
Seu último trabalho é o romance Meu nome é Emilia del Valle, que foi lançado em maio também no Brasil. Essa obra está ambientada na guerra civil chilena do final do século 19. A protagonista desta história de amor e guerra é uma jornalista que tem parentesco com a família Del Valle, a mesma que aparece no livro A casa dos espíritos.
“Quando começo um novo livro, se é uma novela histórica como esta, faço muito trabalho de investigação, do que aconteceu naquela época. Tenho todos os acontecimentos históricos, mas ainda não sei quem vai contar e o que acontecerá com os personagens. Isso vai sendo desenvolvido palavra por palavra ao longo do livro”, contou.

Lucila Runnacles
Essa contadora de histórias, de 82 anos, revela que nos últimos anos a sua única atividade tem sido escrever. “Já não tenho vida social, não cozinho. A única coisa que faço é escrever e enquanto faço isso me sinto com força. Pra mim é muito fácil me colocar no papel de cada personagem, é um processo fascinante”.
A chilena também revelou que sempre gostou muito de ler Jorge Amado e que chegou a conhecê-lo pessoalmente uma vez durante um almoço.
Memórias e próximo trabalho
Sobre o próximo livro, Isabel diz que está escrevendo um sobre as suas memórias a partir de 2015; sobre o amor, a solidão e a velhice, mas que isso não está sendo nada fácil.
“Está sendo difícil porque é muito mais fácil escrever ficção. Na ficção eu faço o que quero, mas em uma memória é preciso encontrar a verdade e muitas vezes encontrá-la pode ser dolorido. Eu percebi que esqueci 90% do que aconteceu comigo e os 10% do que lembro não aconteceram exatamente como eu imagino que foi”, disse.
