Políticos ligados a grupos islâmicos proclamam vitória do “sim” no referendo constitucional realizado neste sábado (15/12). O projeto, defendido pelo presidente Mohamed Mursi, propõe, entre outras medidas polêmicas, a aplicação de parte da sharia (lei islâmica) no país. Já a oposição, capitaneada por opositores laicos e liberais na primeira etapa do referendo constitucional, denunciou a ocorrência de fraude e convocou protestos para terça-feira (18).
Os resultados extraoficiais do primeiro dia de votação apontam a vitória da proposta defendida por Mursi e o principal partido do Egito, o PLJ (Partido Liberdade e Justiça), braço político da Irmandade Muçulmana. O site da legenda afirma que a votação está em 56,5% a favor do “sim”.
Esse resultado é baseado nas apurações fornecidas por funcionários dos colégios eleitorais e, até o momento, está abaixo do resultado esperado pelos grupos islâmicos. A imprensa local também credita vitória ao “sim”.
Agência Efe (14/12/12)
Manifestantes a favor de Mursi e da Irmandade Muçulmana protestam no Cairo
De acordo com os resultados preliminares, quase 57% dos eleitores no Cairo votaram contra a Constituição no Cairo, enquanto o “sim” venceu em Alexandria.
A votação aconteceu no sábado em dez regiões do Egito, incluindo Cairo e Alexandria, e prosseguirá no próximo sábado (22/12) nos outros 17 governos, depois de semanas de manifestações contra e a favor do projeto, que terminaram em várias ocasiões em atos de violência.
A oposição, que inicialmente exigia a anulação do referendo, resolveu participar nos últimos dias, fazendo campanha pelo “não”. Ela alega que o texto, formulado sem sua participação na Assembleia Constituinte, favorece a interpretação rígida do islã e oferece poucas garantias para determinadas liberdades fundamentais.
Para os partidários do “sim”, o texto dará ao país um marco institucional estável depois da conturbada transição, registrada após a queda do presidente Hosni Mubarak (1981-2011).
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A Frente de Salvação Nacional, principal partido da oposição, afirmou no sábado que quase dois terços dos eleitores haviam rejeitado o texto,mas um dos principais integrantes da coalizão, o movimento Corrente Popular, confirmou o percentual vitorioso do “sim”. A FSN afirmou que “não reconhecerá qualquer resultado não oficial”, antes da segunda etapa da consulta popular no próximo sábado.
Sigilo
A Comissão Eleitoral se recusou a comentar as informações sobre a votação e não divulgou dados sobre a participação.
“Os resultados não serão aprovados pela comissão eleitoral até o fim da segunda etapa para não provocar confusão, para preservar o país e na espera dos recursos”, declarou um membro da comissão, Mohamed el Tanbuli.
As semanas anteriores à votação foram marcadas por uma grave crise política que dividiu o país. Para muito egípcios, o referendo virou uma votação a favor ou contra a poderosa Irmandade Muçulmana, de onde procede Mursi.
Irregularidades
Vários grupos de direitos civis no Egito pediram a repetição da primeira rodada do referendo, alegando que o pleito foi marcado por uma série de violações. Representantes de sete grupos alegam que a supervisão de juízes no referendo realizado no sábado foi insuficiente em dez das 27 províncias, e que monitores independentes foram proibidos de acompanhar a contagem dos votos.
Em entrevista coletiva, esses representantes disseram que há relatos de que indivíduos se identificaram falsamente como juízes, mulheres foram proibidas de votar, e membros da Irmandade Muçulmana tiveram acesso permitido aos centros de votação. Eles também disseram que alguns centros de votação fecharam antes do horário previsto e que cristãos foram proibidos de votar.
“Pedimos que a comissão eleitoral evite essas violações na segunda rodada e repita a primeira rodada”, disse um comunicado dos sete grupos. “A contagem dos votos aconteceu no escuro”, disse Negad Borai, líder de um dos grupos. Segundo ele, a comissão eleitoral não apurou milhares de reclamações sobre violações e irregularidades.