Quarta-feira, 18 de junho de 2025
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Centenas de manifestantes protestaram neste sábado (22/06) em Hamburgo, no norte da Alemanha, contra o presidente da Argentina, Javier Milei, que está na cidade para receber uma homenagem de uma fundação neoliberal que tem laços com políticos de ultradireita. 

A convocação para a manifestação foi feita por organizações da diáspora argentina e latino-americana, ONGs alemãs e organizações de esquerda.

No domingo, Milei ainda deve se reunir brevemente com o chanceler federal Olaf Scholz, numa visita que teve a programação drasticamente reduzida nos últimos dias.

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Homenagem de grupo associado à ultradireita

Com faixas com mensagens como “Miséria Neoliberal”, alguns ativistas se reuniram em frente ao hotel onde Milei recebeu nesta tarde a medalha da Sociedade Hayek, um think tank fundado em 1998 originalmente para promover ideias liberais do economista austríaco Friedrich Hayek (1899-1992).

Nos últimos anos, porém, a sociedade passou a ser vista como uma entidade controversa após entrada de vários políticos do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), num movimento que chegou a ser descrito por um antigo membro liberal como um processo de “infiltração por reacionários”. Como resultado, dezenas de antigos membros liberais deixaram a sociedade nos anos 2010.

Ao receber a medalha, o presidente argentino foi recebido de pé por cerca de 200 pessoas, que aplaudiram e gritaram “liberdade” no hotel Hafen de Hamburgo,

“Você [Milei] defende uma mudança fundamental de rumo sem promessas populistas, de soluções baratas”, declarou o presidente da Sociedade Hayek, Stefan Kooths.  “O seu principal oponente chama-se marxismo cultural, uma vez que o socialismo puramente econômico de Karl Marx foi há muito liquidado em nível teórico e prático”, comentou o presidente da Sociedade Hayek, que também criticou “o niilismo igualitário, as fantasias das políticas identitárias, os equivocados caminhos pós-coloniais e o feminismo radical”, entre outros. 

Entre os presentes no evento estava o polêmico ex-chefe dos serviços secretos alemães, Hans-Georg Maaßen, conhecido por espalhar teorias conspiratórias e por suas ligações com diversas personalidades da ultradireita, e a deputada Beatrix von Storch,  da ala ultracristã da AfD, que em 2021 provocou controvérsia ao se encontrar com o então presidente Jair Bolsonaro e outras figuras da extrema direita brasileira em Brasília. 

Von Storch registrou uma foto da cerimônia em Hamburgo e publico uma mensagem na rede X. “As reformas econômicas de Milei podem não só salvar a Argentina, mas mudar o mundo. Os socialistas estão se manifestando lá fora. O medo está em seus rostos. Liberdade em vez de socialismo. Viva la libertad, carajo”, escreveu, citando um dos bordões de Milei.

Twitter/piratasdelsurok
Centenas de pessoas saíram às ruas de Hamburgo para protestar contra presidente argentino, Jaiver Milei
“Mês anti-Milei”

Paralelamente aos protestos em frente ao hotel onde Milei recebeu a homenagem, outras cerca de 400 pessoas, segundo a emissora regional NDR, marcharam para pedir a anulação da entrega da medalha, empunhando cartazes onde se liam mensagens como “Milei não é liberdade, é fascismo” e “A Argentina não está à venda”.

A convocação fez parte do chamado “mês anti-Milei”, uma série de eventos convocados em vários pontos da Alemanha por uma plataforma de organizações argentinas e alemãs.

A agenda de protestos contra o presidente argentino termina neste sábado em Berlim com um “festival da democracia” que inclui aulas de tango e música ao vivo.

Enquanto isso, as manchetes dos principais jornais alemães descreveram neste sábado a visita de Milei como a de um “convidado difícil”.

Visita reduzida

Depois de receber a Medalha Hayek em Hamburgo, Milei viajará para Berlim, onde se reunirá no domingo com o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, no que foi descrito pelas autoridades como uma “breve visita de trabalho” que acabará sendo mais curta do que o esperado inicialmente.

Originalmente, o argentino seria recebido com honras militares e deveria participar de uma coletiva de imprensa conjunta com Scholz. Mas os planos foram modificados na última hora, segundo o governo alemão, devido à recusa do presidente argentino em falar com os jornalistas.

“No final é uma visita de trabalho muito breve, por vontade do presidente argentino”, explicou na sexta-feira o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, que frisou que houve uma “recusa clara” de Milei em participar de uma coletiva de imprensa. Segundo Hebestreit, o chanceler Scholz “se reúne com muitos chefes de Estado e de governo (…), ele é mais próximo de alguns do que de outros (…). Ele também conversa com parceiros difíceis”.

No entanto, os meios de comunicação alemães também especularam que o encurtamento da visita pode estar relacionado com os comentários do porta-voz do governo alemão que nesta semana descreveu declarações agressivas de Milei contra primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, como “de mau gosto”. Em maio, durante viagem a Madri para participar de uma convenção do partido espanhol de ultradireita Vox, Milei se referiu à esposa do premiê espanhol, Begoña Gómez, como uma “mulher corrupta”, gerando tensão diplomática entre a Espanha e a Argentina.