Em uma entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (24/01) o deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, eleito para o cargo pela terceira vez consecutiva, afirmou que abrirá mão do novo mandato para deixar o Brasil.
Desde o assassinato de sua colega de partido, a vereadora Marielle Franco, em março de 2018, o deputado passou a viver escoltado pela polícia. No entanto, o aumento do número de ameaças de morte que vinha recebendo fez com que tomasse a decisão de abandonar o país. Na entrevista concedida à Folha o deputado afirmou que abandonará a vida pública e passará a se dedicar à carreira acadêmica. O parlamentar justificou a decisão a um conselho do ex-presidente do Uruguaio Pepe Mujica. “O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: 'Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis'. E é isso: eu não quero me sacrificar”.
Em um post de despedida no Facebook o deputado escreveu: “Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todos e todos vocês, de todo coração. Axé! ✊”.
Também nas redes sociais a candidata à vice-presidente nas eleições de 2018 pelo PC do B, Manuela Dávila, publicou um longo post relembrando a amizade e as lutas em comum e, apesar de afirmar ter ficado feliz pela decisão de “cuidar de si diante da enxurrada de ameaças que sofre”, agradeceu a coragem do amigo por “desnudar” o ambiente político que o Brasil está vivendo. “Você, corajoso como sempre, ao decidir abrir mão do mandato e sair do Brasil desnuda por todos nós, meu amigo querido, o terror em que vivemos, o ambiente fascistoide que tomou conta da sociedade brasileira”, afirmou a deputada.
Em seu perfil no Facebook a Central Única dos Trabalhadores (Cut) também agradeceu a parceria do deputado federal pelas lutas e afirmou que Jean Wyllys é o ” 1º Exilado político do governo Bolsonaro”.
Primeiro parlamentar assumidamente gay a frequentar o Congresso Nacional, Jean Wyllys se tornou um dos principais alvos de grupos conservadores nas redes sociais. Diversas fake news já foram divulgadas a seu respeito, e o deputado já venceu ao menos cinco processos por injúria, calúnia e difamação.
Com sua decisão, quem assumirá o cargo será o suplente Davi Miranda, que se envolveu em uma polêmica nas redes sociais com o presidente Jair Bolsonaro. Logo depois de Jean Wyllys ter anunciado o abandono do mandato, Bolsonaro havia postado em sua conta no Twitter: “Grande dia!”, o que foi interpretado como uma provocação. Poucos minutos depois, Carlos Bolsonaro escrever “Vá com Deus e seja feliz!”.
Em resposta, Davi escreveu: “Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília.”
Em função da polêmica gerada pela postagem, Bolsonaro voltou à rede para se justificar e afirmou que se tratava de fake news, pois estaria falando dos resultados positivos de sua ida ao Fórum Econômico Mundial de Davos.
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‘Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum’, disse Jean Wyllys