Jorge García e Ulisses Ocampo sabem pouco sobre termos como déficit comercial, recessão, inflação e outros males econômicos. Mas estão sofrendo na pele, como mais de cem milhões de mexicanos, os efeitos da crise econômica que invadiu o país como os piores tornados.
Após 20 anos trabalhando como gerente de empresas, Jorge García está passando, aos 53 anos recém completados, pelo pior momento de sua vida: faz sete meses que entrou para a lista dos desempregados.
Nem as três formações universitárias – contabilidade pública, direito e marketing – e mais de 25 anos de experiência impediram que perdesse o emprego. A empresa onde trabalhava faliu.
Desde que foi demitido, há sete meses, Garcia enviou cerca de cem currículos, sem ter obtido nenhuma resposta, nem sequer um convite para entrevista. As três agências de trabalho a que recorreu para um novo emprego também enfrentam uma realidade adversa: as ofertas de trabalho caíram 60%.
O nível de vida ao qual ele e sua família estavam acostumados caiu radicalmente porque junto com a perda do emprego, tiveram que lidar também com o aumento do preço de produtos básicos e de serviços.
“Dos dois carros que tinha, tive que vender um e o outro deixei definitivamente de usar, porque a gasolina sobe a cada mês. De entretenimento, nem falar. Desapareceram todas as idas ao cinema, comer fora de casa, tudo. Agora compramos alimentos apenas uma vez por mês na central de abastecimento porque o preço nos mercados subiu muito. Se antes gastava 500 pesos (R$ 83 reais) em comida, para comprar a mesma quantidade devo desembolsar agora 1,900 pesos (R$ 316 reais)”, afirma.
Assim, esse homem enfrenta um dilema para sustentar a família: “As economias de toda a minha vida estão para acabar, com elas estamos vivendo nesses últimos meses. Estou em um momento em que devo dizer: ou insisto, me agarro à esperança de arranjar um emprego e acabo com minhas poupanças, ou invisto o que me resta de dinheiro em um carro e me torno taxista, deixando de lado toda a minha qualificação”.
Ulisses Ocampo vive uma situação parecida. Tem 28 anos e é engenheiro elétrico e de comunicações. Foi demitido de um dos maiores e mais importantes centros de convenção do país: o Centro Banamex. “Me lembro do corte. Houve uma demissão generalizada de 30% dos empregados. Disseram que somente assim a empresa poderia se salvar. E prometeram que assim que a situação se estabilizasse, em seis meses aproximadamente, nos chamarão de novo”.
Ocampo tem planos de casar em 2009. No ano passado, comprou uma casa que ainda não terminou de pagar. Com o que recebeu do Centro Banamex, antecipou três parcelas da divida e acredita que encontrará trabalho em fevereiro. Mas está consciente de que não será fácil. “Se não encontrar nada, penso em fazer algo por minha conta. Sei fazer edição de vídeo e áudio. Não posso me dar ao luxo de ficar desempregado, pois tenho um compromisso a cumprir”.
Como eles, milhões de mexicanos perderam poder aquisitivo, ao mesmo tempo em que veem subir o preço dos produtos. Alimentos básicos como feijão, lentilha, arroz, óleo, ovos, café, milho e carne subiram até 130% em dois anos.
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