Um tribunal egípcio condenou nesta segunda-feira (23/06) a entre sete e dez anos de prisão três jornalistas do canal Al-Jazeera em inglês, por supostamente divulgar notícias falsas sobre o Egito e colaborar com a Irmandade Muçulmana. Segundo o veredito lido no final da audiência, o correspondente australiano Peter Greste e o egípcio com passaporte canadense Mohamed Fahmy receberam uma pena de sete anos de prisão, e o egípcio Baher Mohammed de dez.
Efe
Foto de 31 de março desse ano mostra da direita para a esquerda Peter Greste, Mohamed Fahmy e Baher Mohammed
Após o anúncio, Fahmy gritou: “Vão pagar por isso, vão pagar por isso, eu juro!”. “Estamos destruídos, é difícil encontrar as palavras para descrever o que sentimos. Não esperávamos nada disso, pensávamos que seria absolvido”, declarou Andrew Greste, cujo irmão trabalhou anteriormente para a BBC e recebeu vários prêmios. “Vamos lutar por sua libertação”, acrescentou.
O caso ainda envolveu outros nove acusados, julgados à revelia — incluindo três jornalistas estrangeiros, dois britânicos e um holandês — que também foram condenados a 10 anos de prisão. No total, 16 egípcios estavam acusados de integrar uma “organização terrorista” -— a Irmandade Muçulmana — e de “tentativa de prejudicar a imagem do Egito”. Quatro estrangeiros foram acusados de divulgar “notícias falsas” para apoiar a Irmandade.
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, condenou e se mostrou “consternada e alarmada” pelo veredito. Ela disse haver incessantes ataques contra jornalistas e ativistas da sociedade civil, algo que, segundo ela, os impede de atuar com liberdade. “Estou especialmente preocupada pelo papel do sistema judiciário nesta repressão”, assinalou a Navy em comunicado.
Indulto
Um funcionário da presidência egípcia declarou à AFP que nenhum indulto será concedido no momento e que não é possível intervir até que um tribunal de apelação se pronuncie sobre o assunto.
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Chabane Said, advogado da defesa, denunciou que se tratava de uma sentença política. “Não há nenhuma prova contra os acusados. Todos os jornalistas devem se preocupar a partir de agora: não há justiça, é a política que dita a lei”, disse.
O veredicto é divulgado duas semanas após a eleição à presidência do ex-chefe militar Abdel Fatah al-Sissi com 96,9% dos votos. O marechal dirigia de fato o país desde que derrubou e prendeu o presidente anterior, Mohamed Mursi, no dia 3 de julho de 2013, e lançou uma sangrenta repressão contra toda a oposição política.
O exército e a polícia mataram mais de 1.400 manifestantes pró-Mursi e detiveram mais de 15.000 pessoas, muitas das quais foram condenadas à morte ou à prisão perpétua em julgamento rápidos e em massa.
Os jornalistas Greste e Fahmy foram detidos quando cobriam estes acontecimentos no dia 29 de dezembro em um quarto de hotel do Cairo transformado em escritório depois que a polícia invadiu a sede da Al-Jazeera. Os repórteres trabalhavam sem o credenciamento que era obrigatório para todos os meios de comunicação.