O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, desembarcou na manhã desta quarta-feira (26/06), no horário de Brasília, na Austrália, seu país natal, após firmar um acordo com a Justiça dos Estados Unidos que resultou em sua liberdade.
O jornalista não poderá viajar aos Estados Unidos sem autorização, informou o Departamento de Justiça em um comunicado.
Assange chegou durante a noite (horário da Austrália) a Camberra, capital australiana, em um avião particular, rumo à etapa final de uma longa batalha judicial de 14 anos, sendo os últimos cinco em uma prisão de segurança máxima no Reino Unido, onde estava preso desde 2019. Ao sair do avião, o australiano ergueu o punho, atravessou a pista para abraçar a esposa Stella e depois o pai, diante dos olhares de dezenas de jornalistas.
“Julian está livre! Não há palavras para expressar nossa imensa gratidão a vocês – sim, vocês que se mobilizaram durante anos e anos para tornar isso realidade. Obrigado. Obrigado. Obrigado”, postou Stella Assange em seu perfil no X (antigo Twitter). Ela assumiu a linha de frente da campanha mundial por sua libertação.
Como parte do acordo com os EUA, o jornalista declarou-se culpado da acusação de conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional do país norte-americano na noite de terça-feira (25/06). “Trabalhando como jornalista, motivei minha fonte a fornecer material confidencial”, declarou Assange no tribunal, em referência à soldado norte-americana Chelsea Manning, que vazou as informações.
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A declaração foi realizada em um tribunal norte-americano nas Ilhas Marianas do Norte. Assange se negou a viajar para o território continental dos Estados Unidos e pediu para comparecer à Corte do local próximo da Austrália, segundo um documento judicial.
Cansado, mas visivelmente relaxado, Assange deixou o tribunal sem fazer qualquer declaração, segundo os correspondentes da AFP.
JULIAN ASSANGE IS FREE!!
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— Free Assange – #FreeAssange (@FreeAssangeNews) June 26, 2024
Dia histórico
“Hoje é um dia histórico. Encerra 14 anos de batalhas jurídicas, incluindo sete anos de confinamento na embaixada do Equador em Londres”, disse uma de suas advogadas, Jennifer Robinson.
Depois de deixar o tribunal, Assange embarcou em um avião privado que partiu das Ilhas Marianas com destino a Camberra.
“Ele sofreu muito por sua luta pela liberdade de expressão, a liberdade de imprensa”, afirmou Barry Pollack, seu outro advogado. “Acreditamos com veemência que o senhor Assange nunca deveria ter sido acusado com base na Lei de Espionagem”, acrescentou.
O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, que foi advogado de Assange, celebrou que “ele possa finalmente ser um homem livre”.
Na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a liberdade do fundador do Wikileaks. “O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje. Julian Assange está livre depois de 1.901 dias preso. Sua libertação e retorno para casa, ainda que tardiamente, representam uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa”, disse o presidente brasileiro.
A celebração foi acompanhada por outros líderes da América Latina, como o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o mexicano Andrés Manuel López Obrador.
Perseguição
Assange se tornou alvo dos EUA por divulgar documentos que provavam crimes cometidos por militares do país em suas campanhas no Iraque e no Afeganistão, na chamada “guerra contra o terror”. O australiano foi acusado de divulgar, a partir de 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas dos Estados Unidos.
Entre os documentos há um vídeo, filmado em julho de 2007 a partir de um helicóptero, que mostra civis sendo atingidos por tiros, incluindo um jornalista da Reuters e seu motorista, que morreram na ação.
Dilma foi alvo de espionagem
O WikiLeaks publicou, em 2015, a informação de que a então presidente Dilma Rousseff era espionada rotineiramente pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) desde 2011, juntamente com outras 28 autoridades.
A NSA monitorou dez telefones diretamente ligados a Dilma, entre telefones fixos de escritórios e celulares como o de seu assistente pessoal, Anderson Dornelles, além de ministros como Antonio Palocci.