Segundo a Agência Boliviana de Informação (ABI), o Ministério Público (MP) da Bolívia acusou nesta sexta-feira (28/06) o ex-comandante militar golpista Juan José Zúñiga, responsável pela tentativa falhada de derrubar o governo do presidente Luis Arce por terrorismo e levante armado contra a segurança e soberania do Estado, solicitando seis meses detenção preventiva na cadeia de Chonchocoro.
Também de acordo com a imprensa local, a denúncia formal foi apresentada pela Promotoria Departamental de La Paz, uma das divisões da Procuradoria-Geral da República, e estendeu-se também ao ex-comandante da Marinha, Juan Arnez, e ao ex-comandante da Divisão Mecanizada, Edison Irahola, envolvidos no golpe de Estado fracassado.
De acordo com a Promotoria a participação dos militares na tomada da Praza Murillo, sede do Executivo boliviano, na última quarta-feira (26/06) é “objetivamente provada” e há “elementos de convicção suficientes” para tal.
Depoimento de Zúñiga
Em depoimento à polícia boliviana após retirar-se da Praza Murillo, Zúñiga revelou que Aníbal Aguilar, irmão do ex-ministro da Educação de Evo Morales, Roberto Aguilar, foi o “ideólogo” da tentativa de golpe.
“O ideólogo era o senhor Aníbal Aguilar, que desde maio fazia apresentações e análises em meu gabinete. Ele me disse que eu deveria fazer um levante onde deveríamos ir à Plaza Murillo para tomar o poder e convocar eleições”, afirmou às autoridades.
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À polícia, também declarou que a tentativa de golpe de Estado falhou por falta de apoio militar. O ex-chefe do Exército boliviano liderou tanques e soldados para tomar o Palácio Presidencial, mas confessou que não conseguiu “consumar os objetivos da revolta porque seus reforços demoraram a chegar”.
Zúñiga defende a versão de que o próprio presidente Arce seria responsável pelos acontecimentos, em uma espécie de autogolpe. “O presidente conversou comigo no domingo (23/06) e pediu para que eu produzisse um fato que ajudasse a aumentar sua popularidade”, alegou o ex-general.
Já o ministro do Governo boliviano, Eduardo del Castillo, declarou na última quinta-feira (27/06) que os planos militares para derrubar o presidente Arce foram feitos há três semanas e envolviam militares que “conspiraram” para violar a ordem constitucional do país. No entanto, não mencionou o suposto envolvimento de Aníbal Aguilar.
Presos chegam a 21
A polícia da Bolívia capturou mais militares envolvidos no golpe, chegando a 21 pessoas investigadas pelos crimes de “levante armado, ataque ao presidente e destruição de bens públicos e privados”.
Até a noite da última quinta-feira, segundo o governo boliviano, o número era de 17 militares que se juntaram a Zúñiga a fim de “recuperar a Pátria”.
Entre os novos apreendidos estão Miguel Ángel Burgos, identificado como capitão de infantaria e responsável pela ação que destruiu a porta do Palacio Quemado (sede da Presidência boliviana], segundo o jornal boliviano El Deber.
O motorista do tanque militar que conduzia o veículo contra o prédio também foi detido e identificado como Sargento Alan Condori.
Entenda tentativa de golpe na Bolívia
O ex-comandante do Exército boliviano Juan José Zúñiga liderou uma tentativa de golpe nesta quarta-feira (26/06) contra o governo de Luis Arce. Com tanques e grupos militares armados, os golpistas cercaram a Praça Murillo em La Paz, local no qual está situado o Palácio Presidencial do país.
No dia anterior, Zúñiga foi afastado do cargo que ocupava desde 2022 após ameaçar Evo Morales por se opor a uma possível candidatura do ex-presidente para a disputa das eleições de 2025. Zúñiga e os militares invadiram o prédio falando em “recuperar a Pátria”.
Após esse primeiro momento, Arce denunciou uma “mobilização irregular de algumas unidades do Exército Boliviano”, enquanto Morales afirmou que os militares estavam “se preparando um golpe de Estado”.
A tentativa foi frustrada após Arce encarar o ex-general e dar posse a novos comandantes militares, sendo eles: José Wilson Sánchez Velasquez, no Exército; Gerardo Zabala Alvarez, na Força Aérea, e Wilson Ramírez, na Marinha.
Durante seu pronunciamento logo após a posse, o novo comandante do Exército, Sánchez Velasquez, ordenou que as tropas mobilizadas nas ruas durante o golpe voltassem imediatamente aos quartéis, o que foi cumprido pelos soldados que, minutos antes, estavam obedecendo a Zúñiga.
(*) Com Agencia Boliviana de Información