O Tribunal Constitucional da Romênia decidiu nesta sexta-feira (06/12) anular os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais no país, que terminou com a liderança do candidato de extrema direita e pró-Rússia Calin Georgescu, com 23% dos votos contra a candidata de centro-esquerda Elena Lasconi, pró-União Europeia., que angariou 19%.
“O processo eleitoral para a escolha do Presidente da Romênia será completamente repetido e o governo escolherá uma nova data”, afirmou o tribunal em comunicado. De acordo com o tribunal, a anulação foi baseada no Artigo 146 da Constituição, que prevê a necessidade de garantir a correção e a legalidade do processo eleitoral.
Desta forma, o segundo turno, previsto para o próximo domingo (08/12), foi automaticamente cancelado.
A decisão ocorre em meio à divulgação de dados pela Presidência do país, liderada por Klaus Iohannis, apontando supostas violações nas eleições. Na última quarta-feira (04/12), foram divulgados documentos sobre o papel do TikTok durante a campanha eleitoral.
De acordo com os relatórios apresentados pelo principal conselho de segurança da Romênia, o processo político do país apresentou uma série de ataques cibernéticos e impulso de algoritmos através da rede social na campanha de Georgescu. O órgão também falou em evidências de interferência estrangeira, insinuando uma influência russa no processo.
De acordo com os serviços de inteligência romenos, o país tinha se tornado alvo de “ações híbridas agressivas por parte da Rússia”. O documento também apontava que 25 mil contas de bots no TikTok poderiam estar fazendo campanha a favor de Georgescu. O candidato da extrema direita, por sua vez, nega qualquer ligação com a Rússia.
Em 28 de novembro, o Conselho Supremo de Defesa da Romênia realizou reunião especial sobre a campanha eleitoral do país e concluiu que o TikTok tinha dado preferências a Georgescu. No entanto, uma recontagem dos votos expressos nas eleições presidenciais não revelou quaisquer discrepâncias significativas com os resultados oficiais e, em 2 de dezembro, o Tribunal Constitucional Romeno reconheceu os resultados da primeira volta como válidos.
Em declaração à imprensa, o presidente romeno afirmou que após os resultados das eleições parlamentares serem homologados, o novo governo do país “decidirá sobre os novos parâmetros para os dois turnos [das eleições presidenciais]”.
De acordo com Iohannis, ele permanecerá no cargo “até que o novo presidente tome posse”, de acordo com a constituição do país.
Tudo está estável na Romênia, e o país “não tem problemas”, argumentou.
Campanha anti-Otan
Nos últimos 10 anos, a Romênia esteve sob a liderança de Klaus Iohannis, político pró-Ocidente, marcado pela estreita cooperação entre Bucareste, a União Europeia e a Otan. Já Calin Georgescu aponta que a União Europeia e a Otan não representam os interesses da Romênia.
Em particular, o candidato criticou a implantação do sistema de defesa antimísseis da Aliança do Atlântico Norte na base militar romena na cidade de Deveselu, que chamou de “uma vergonha para a diplomacia” e “parte da política de confronto” com a Rússia.
Georgescu também comparou a adesão da Romênia à Otan como uma “terceirização” no domínio da segurança nacional e da defesa do país. O político afirmou que a Aliança do Atlântico Norte não protegeria nenhum dos seus membros em caso de ataque da Rússia.
Ao comentar os desdobramentos das eleições romenas após o primeiro turno, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Moscou “não possui informações detalhadas” sobre a posição do político em relação à Rússia.
(*) Com Ansa, Brasil de Fato e TASS