Segunda-feira, 21 de abril de 2025
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A deputada Karol Cariola anunciou neste domingo (16/03) sua renúncia ao cargo de presidente da Câmara dos Deputados do Chile, após a oposição de direita protocolar uma segunda moção de censura contra ela, em função das investigações sobre ela promovidas pelo Ministério Público chileno.

A decisão ocorre cinco dias depois de ser analisada uma primeira moção apresentada na mesma casa, situação que a obrigou a parlamentar do Partido Comunista chileno a interromper seu pós-natal e a comparecer ao Congresso com seu filho de oito dias no colo para se defender. A moção acabou rejeitada, com 72 votos contra, 51 a favor e uma abstenção.

No entanto, uma segunda moção foi protocolada, horas depois de o Ministério Público vazar novas conversas por whatsapp entre Cariola e a ex-prefeita de Santiago, Irací Hassler, também do Partido Comunista, também referentes à tentativa de aquisição da clínica Sierra Bella por parte da administração municipal, durante a gestão de Hassler (operação que não se concretizou).

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Após esse episódio, Cariola preferiu renunciar ao cargo, através de uma nota publicada em suas redes sociais, na qual afirma que enfrenta “toda uma operação midiática e política que vem sendo montada para me atacar e desacreditar minha imagem pública”.

“O que preciso agora é de paz e concentração para cuidar do meu filho Borja, que é, sem dúvida, minha primeira prioridade. É uma decisão difícil, porém necessária, porque meu filho precisa que sua mãe esteja forte e inteira, mas em breve estarei de volta para me defender dos ataques que estou recebendo”, afirma a parlamentar comunista.

O caso contra Cariola

No dia 3 de março, o Ministério Público chileno executou um mandado de busca e apreensão na casa de Cariola, que foi solicitado em virtude do vazamento de conversas por whatsapp entre a deputada e a então prefeita de Santiago, Irací Hassler (2020-2024), nas quais as duas militantes comunistas efetivamente conversam a possível compra da Clínica Sierra Bella por parte da Prefeitura da capital chilena.

Nos diálogos, Cariola apresenta a Hassler uma proposta para que, no caso de a clínica ser adquirida pela Prefeitura de Santiago, esta pudesse contar com um departamento dedicado especialmente para mulheres de baixa renda.

Câmara dos Deputados do Chile
Deputada Karol Cariola foi obrigada a comparecer ao Congresso chileno com seu filho de oito dias no colo

A diligência realizada pelos promotores foi realizada no mesmo momento em que a parlamentar estava internada e em trabalho de parto, dando à luz ao seu primeiro filho.

A operação foi coordenada pelo promotor Patricio Cooper e justificada de forma contraditória. Primeiro, o Ministério Público disse que se tratava de uma investigação sobre um suposto caso de tráfico de influências no processo de compra da falida clínica Sierra Bella, no Centro de Santiago, por parte da Prefeitura de Santiago, para a incorporação dessa estrutura à rede de saúde pública municipal.

Apesar de a busca e apreensão ter sido realizada naquela data, os eventos investigados teriam acontecido em novembro de 2022, quando a prefeita da capital chilena era Irací Hassler, também do Partido Comunista. O pedido da promotoria para realizar a diligência surgiu em função do vazamento de uma conversa por whatsapp ocorrida também em 2022, entre Cariola e Hassler.

Porém, o processo de aquisição da clínica Sierra Bella nunca foi concretizado e o edifício jamais foi comprado pela administração municipal.

Diante da repercussão do caso, o Ministério Público mudou sua versão e afirmou que se trataria de um caso de tráfico de influência para que uma pessoa ligada a Cariola pudesse receber um suposto alvará para venda de álcool em um estabelecimento comercial do Centro de Santiago, supostamente próximo à clínica.

Horas depois da diligência, o Partido Comunista publicou um comunicado exigindo que as investigações do caso sejam feitas “com transparência e sem instrumentalização política, garantindo o devido processo e o respeito aos direitos fundamentais”.

O Partido Comunista e a própria deputada afirmam que as acusações do Ministério Público e os vazamentos à imprensa de conversas que deveriam estar protegidas pelo sigilo da investigação configuram mais um caso de lawfare contra a sigla, similar ao sofrido pelo ex-prefeito da comuna de Recoleta, Daniel Jadue, que passou três meses em prisão preventiva, em meados de 2024, e que ainda está sob prisão domiciliar, apesar de o processo contra ele não ter uma sentença definitiva.

 

Com informações de El Ciudadano e Rádio Universidad de Chile.