Há semanas, é quase impossível achar passagens de avião para o Líbano. Além da tradicional volta anual dos libaneses espalhados por países africanos, Golfo e Europa, movidos pela saudade ou pelo calor do verão libanês, outra razão para a alta procura são as eleições parlamentares do próximo dia 7 de junho.
O pleito representa um momento forte da política libanesa. A possibilidade de a coligação encabeçada pelo Hizbollah – grupo armado e organização política xiita tachado como terrorista pelos Estados Unidos – conseguir a maioria dos votos levou diversos partidos a comprar passagens para que os libaneses fora do país votem.
Duas grandes coligações dividem as preferências da população, sendo as outras forças políticas, em certa medida independentes, mais fracas. De um lado está a coligação governista 14 de Março – aliança entre o Corrente do Futuro, grupo hegemônico entre os sunitas libaneses, dirigido por Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, assassinado em 2005, o Partido Socialista Progressista de Walid Jumblatt, chefe tradicional dos drusos, e as Forças Libanesas, ex-milícia cristã. Do outro, a coligação de oposição 8 de Março junta o Hizbollah (hegemônico entre os xiitas) ao Corrente Patriótica Livre do general Michel Aoun, majoritário entre os cristãos, e outros pequenos grupos.
No Líbano, as opções políticas se confundem facilmente com as identidades sectárias, particularmente nos períodos de forte polarização, como o das eleições. Os líderes dos grupos – muçulmanos (xiitas e sunitas), cristãos (maronitas, ortodoxos, gregos, melquitas greco-católicos, cristãos armênios, cristãos assírios, coptas), aluítas e drusos – conseguem com mais facilidade capitalizar os votos dos seus correligionários, por meio de uma política de medo, e transformam o exercício democrático numa espécie de “censo étnico”.
Parlamento dividido meio a meio
O mapa eleitoral do Líbano se divide em 26 regiões. Cada uma irá eleger entre 2 e 10 deputados. A câmara libanesa é composta por 128 deputados, cuja repartição religiosa é previamente distribuída segundo um sistema bem peculiar: sem base nos resultados das urnas.
Apesar de os muçulmanos representarem agora mais de 62% dos 3 milhões de eleitores, 64 deputados cristãos e 64 deputados muçulmanos ocuparão as cadeiras no fim do pleito.
O jogo político-religioso não para por aí e inclui até subgrupos. Os maronitas receberão 34 das 64 cadeiras para deputados cristãos. Xiitas e os sunitas terão direito a 27 cada. As cadeiras restantes serão também previamente distribuídas entre outros grupos minoritários, tanto cristãos quanto muçulmanos.
Nas últimas eleições de 2005, logo depois do assassinato de Hariri e da saída da Síria, os governistas capitalizaram em cima da mudança traumática e conseguiram eleger 72 deputados contra 56 da oposição. Desta vez, as últimas pesquisas de opinião revelam um empate técnico, fazendo esquentar ainda mais os ânimos no “caldeirão das minorias” do Oriente Médio.
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