Treze meses após a renúncia do gabinete de Hassan Diab, o Líbano adotou um novo governo nesta sexta-feira (10/09) presidido pelo político e empresário sunita Najib Mikati. Ele é composto por 24 ministros, divididos igualmente entre cristãos e muçulmanos.
Quarenta e cinco dias após sua nomeação, Najib Mikati teve sucesso onde Saad Hariri falhou e, antes dele, o embaixador Moustapha Adib.
O empresário e parlamentar de Trípoli conseguiu superar, um a um, todos os obstáculos que dificultaram a formação do governo libanês e que repetidamente não conseguiram bloquear o processo. As árduas negociações esbarraram na divisão das pastas, na escolha dos ministros e, por fim, neste famoso “terceiro bloqueio”, que permite a quem o detém exercer influência decisiva no Executivo.
O presidente Michel Aoun era suspeito por seus detratores de querer obter um terço das pastas. Finalmente, no gabinete de Mikati, nenhum partido tem essa minoria de bloqueio por conta própria, de acordo com o novo primeiro-ministro.
O novo governo herda um país maltratado, atingido por uma das piores crises econômicas do mundo em 170 anos, sofrendo com a escassez de combustível, remédios e alguns alimentos, e à beira do caos total.
Sua tarefa imediata será conter o inexorável colapso geral, encontrar soluções urgentes para reabastecer o mercado com combustíveis, melhorar a vida cotidiana de milhões de libaneses, que se deteriorou consideravelmente.
Najib Mikati/Facebook
O novo primeiro-ministro do Líbano é o para muitos um símbolo da oligarquia corrupta que os libaneses culpam pelo aprofundamento da crise
A longo prazo, o gabinete é chamado a lançar as reformas esperadas pela comunidade internacional para desbloquear a ajuda financeira, mas também para iniciar negociações com o FMI.
Líbano à beira de uma dupla crise de água e alimentos
O Líbano corre o risco de “grave escassez de água”, de acordo com a diretora da Unicef, Henrietta Fore, em um artigo publicado no site da agência da ONU. O país também pode passar por uma crise alimentar, alertou o chefe do sindicato dos importadores de alimentos, Hani Bohsali. O Banco Mundial considera a situação libanesa, uma das crises mais graves do mundo desde meados do século XIX.
“Água e saneamento, redes de eletricidade e saúde estão sob pressão”, disse a chefe da agência da ONU. Mais grave ainda: “hospitais e centros de saúde não têm acesso a água potável devido à falta de energia elétrica, o que coloca vidas em perigo”, completou.
“Se quatro milhões de pessoas forem obrigadas a recorrer a fontes de água perigosas e caras, a saúde pública e a higiene ficarão comprometidas”, alerta Fore. Portanto, teme-se um surto de doenças, além de um aumento nos casos de covid-19.
Setor alimentar enfraquecido
Bohsali, por sua vez, alertou para uma grande crise alimentar. O sindicalista indicou que os três pilares do setor estão enfraquecidos: a queda nas importações devido ao colapso da libra libanesa, a dificuldade dos libaneses em obterem suas necessidades alimentares devido à queda de seu poder aquisitivo.
E, por último, a segurança alimentar é ameaçada pela escassez de combustíveis, o que compromete a refrigeração e preservação dos produtos para consumo.