A líder oposicionista birmanesa e Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, defendeu neste domingo (14/11) a liberdade de expressão e a cooperação com as forças democráticas em seu primeiro comício, um dia depois de ser libertada após sete anos e meio de cativeiro.
Diante de milhares de seguidores aglomerados na rua de Yangun, onde está localizada a sede da Liga Nacional pela Democracia (LND), Suu Kyi inaugurou, com estas mensagens, sua liberdade e o retorno à atividade política, o que pode fazer ressurgir o confronto com os militares que a mantiveram presa.
“A liberdade de expressão é básica dentro da democracia. Quero escutar a voz do povo e, depois, decidiremos o que queremos fazer”, afirmou a filha de Aung San, o herói nacional da independência da Birmânia, que
foi assassinado quando Suu Kyi tinha apenas dois anos de idade.
Os milhares de seguidores exibiam cartazes com mensagens de apoio à ativista, afastada da vida pública durante 15 dos últimos 21 anos por tentar restabelecer a democracia.
“Quero trabalhar com todas as forças democráticas”, manifestou em referência às formações da oposição que disputaram as eleições realizadas há uma semana.
Um dos partidos é uma cisão da LND de Suu Kyi, que pediu o boicote do pleito ao considerar que foi desenhado para perpetuar os generais no poder, que ocupam desde 1962.
Suu Kyi, de 65 anos e que, em 1990, guiou sua formação à vitória eleitoral que jamais foi reconhecida pelos militares, apontou que a “democracia é quando o povo exerce o controle sobre o Governo. Eu sempre aceitarei este tipo de controle”.
Em seu primeiro comício político, que congregou um amplo leque da sociedade, desde trabalhadores pobres a birmaneses de classe média, monges budistas e jovens estudantes, Suu Kyi instou o povo a participar de forma ativa na política.
A alguns metros da sede do partido dissolvido, estava estacionada a limusine do embaixador dos Estados Unidos e carros oficiais de diversas missões diplomáticas da União Europeia (UE) e de países asiáticos.
“É preciso estar ao lado do que é correto”, destacou a líder opositora, que reapareceu vestida com uma blusa verde e com o cabelo enfeitado com flores.
A nobel da paz, que se dirigiu pela primeira vez ao público poucos minutos depois de ter sido libertada no sábado, teve um aparente gesto de reconciliação com os comandantes da Junta Militar presidida pelo general Than Shwe, que ordenou que o noema da ativista não seja pronunciado em sua presença.
“Não tenho nenhum antagonismo em relação às pessoas que me mantiveram em prisão domiciliar. Os agentes de segurança me trataram bem e quero pedir que também tratem bem o povo”, apontou.
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Por sua parte, o Governo birmanês por meio da “Nova Luz de Myanmar”, o jornal estatal que emprega como órgão de propaganda, informou em termos positivos a libertação de Suu Kyi, algo que ocorreu poucas vezes.
O jornal resenhou que Suu Kyi recebeu perdão por seu bom comportamento e que a Polícia “está preparada para dar a ajuda que precise”.
“As pessoas estão felizes. Milhares param para festejar a libertação de Aung San Suu Kyi e ninguém celebra que os militares tenham ganho as eleições”, disse à Agência Efe Myint To, funcionário de 35 anos.
Um boletim da televisão estatal informou que a libertação de Suu Kyi foi incondicional, mas os assessores da nobel de paz não descartam que mais adiante o Governo pretenda restringir seus movimentos e atividades.
Em maio do ano passado, as autoridades a acusaram de violar a prisão domiciliar, depois que um ex-militar americano entrou em sua casa, e acrescentaram 18 meses de condenação.
A sentença foi dada para que a “Dama”, como é chamada por muitos birmaneses, não pudesse participar das eleições deste ano.
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