As investidas dos bilionários norte-americanos Elon Musk e Mark Zukerberg, proprietários das empresas X e Meta, respectivamente, soaram o alarme na Europa em relação à propagação de desinformação e apoio aos discursos da extrema direita mundial nas redes sociais geridas por eles no contexto do novo mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
Inicialmente, foi o bilionário Elon Musk, proprietário da rede X e futuro ministro de Trump, que lançou ataques virulentos contra os líderes europeus.
Mark Zuckerberg, proprietário da Meta (Facebook e Instagram), juntou-se a ele ao sugerir que a legislação europeia equivale a “censura”.
Nesta quarta-feira (08/01), a França pediu à Comissão Europeia que adote uma “maior firmeza” contra as interferências no debate europeu, especialmente a rede social X de Musk.
Questionado durante uma entrevista na rádio France Inter se o X poderia “ser proibido” na Europa como foi no Brasil, onde foi suspenso por 40 dias, o chanceler francês, Jean-Noël Barrot, respondeu: “está previsto em nossas leis”.
“Ou a Comissão Europeia aplica com a maior firmeza as leis que nos demos para proteger o nosso espaço público, ou terá que aceitar devolver aos Estados-membros da UE a capacidade de fazê-lo”, disse o chanceler.
A reivindicação da França surge um dia após a gigante das redes sociais Meta ter anunciado que encerrará o seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos, uma mudança nas suas políticas de moderação de conteúdo que se alinha às prioridades de Trump.
Mediante duas ferramentas, a lei de Mercados Digitais e a de Serviços Digitais, a União Europeia conta, desde 2024, com um importante arsenal para frear os abusos de poder e a difusão de conteúdos ilegais de desinformação. No entanto, após a eleição de Trump, a UE tem optado por se mostrar cautelosa no enfrentamento de grandes grupos tecnológicos estadunidenses.
A cautela da Comissão contrasta com a agressividade que mostrou em dezembro com a rede TikTok, de origem chinesa, contra a qual abriu uma investigação por supostamente permitir desinformação durante eleições na Romênia.
“Devemos proteger nossas democracias de todas as formas de interferência estrangeira”, declarou a então presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, ao anunciar a investigação.
Nesta quarta-feira, a Comissão saiu de seu silêncio inicial para reagir timidamente e negou qualquer ideia de censura da UE. “Rejeitamos categoricamente qualquer acusação de censura da nossa parte”, disse a porta-voz da Comissão, Paula Pinho.
Musk
O bilionário dono da rede social X gerou incômodo em toda a Europa com os seus recentes ataques incendiários a líderes do continente, como o trabalhista britânico Keir Starmer e o social-democrata alemão Olaf Scholz, além de seu apoio explícito aos partidos de extrema direita na região.
Em um aberto desafio à UE, Musk tem em sua agenda para a próxima quinta-feira (09/01) uma conversa online com a líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), apenas um mês antes das eleições legislativas no país.
Perante esta situação, o chefe da diplomacia da França, Jean-Noël Barrot, disse que a UE deve “acordar” e reagir para defender os países do bloco com mais firmeza.
Por sua vez, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, apontou que Musk (sem citá-lo pelo nome) estava atacando “abertamente” as instituições, além de despertar o “ódio”.
Sánchez disse que “o homem mais rico do planeta” lidera uma “internacional reacionária” que “ataca abertamente nossas instituições, incita ao ódio e pede abertamente apoio aos herdeiros do nazismo na Alemanha nas próximas eleições”.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, conversará com o presidente francês Emmanuel Macron na Grã-Bretanha na quinta-feira, disse um porta-voz de Downing Street na quarta-feira.
A reunião acontece depois que os dois líderes, no início desta semana, criticaram o bilionário da tecnologia por suas intervenções cada vez mais estridentes na política doméstica europeia.
Starmer receberá Macron em sua casa de campo em Chequers, em Buckinghamshire, perto de Londres, disse o porta-voz oficial do primeiro-ministro aos repórteres no parlamento.
“A reunião se concentrará em áreas de cooperação e desafios globais compartilhados, incluindo apoio à Ucrânia, tecnologia e IA, crescimento e combate à migração ilegal”, disse o porta-voz.
“Eles também discutirão suas ambições para a cúpula entre o Reino Unido e a França que ocorrerá no final deste ano”, acrescentou.