Os líderes mundiais têm menos de 24 horas para chegar a um acordo final na Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (CoP-15). Hoje (18) é o último dia do evento e, após uma madrugada de reuniões, o clima é de indefinição. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desembarcou pela manhã em Copenhague.
Ao deixar o encontro, realizado após um jantar oferecido pela Rainha da Dinamarca, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que está “rindo para não chorar”, indicando a dificuldade nas negociações.
Eric Feferberg/AFP
Lula e outros chefes de Estado brindam durante jantar oferecido no palácio real, em Copenhague
A imprensa dinamarquesa afirma ter tido acesso a trechos do rascunho que foi produzido por líderes de 27 países. O documento, que ainda deve sofrer alterações, propõe que o aumento na temperatura da Terra não ultrapasse 2 graus Celcius, com base no período Pré-Industrial. Países-ilhas defendem, no entanto, que o aquecimento não seja maior que 1.5 graus, para conter o avanço dos oceanos.
O documento também pede que os países desenvolvidos sem comprometam com 100 bilhões de dólares por ano, até 2020, para ajudar os países pobres nos processos de adaptação a uma nova realidade climática.
O texto provisório não menciona as metas específicas de redução nas emissões de carbono para os países desenvolvidos e não detalha como seria desenhado um acordo que substituiria o Protocolo de Quioto. Garantir a extensão do tratado é uma das principais metas do Brasil e dos países em desenvolvimento nas negociações. Quioto é único documento climático com força jurídica.
Obama, representando uma das nações mais poluidoras da história, deve ser pressionado a se comprometer com uma meta maior de redução dos gases do efeito estufa. Até agora, os EUA – segundo maior poluidor do mundo – disseram que vão cortar as emissões de poluentes em apenas 17%, com base nas metas de 2005. Os EUA não são signatários do Protocolo de Quioto.
ONU
Uma análise confidencial da ONU (Organização das Nações Unidas) revela que o nível de comprometimento apresentado até agora na COP-15 não será suficiente para manter a temperatura da Terra em 2 graus Celsius.
O documento, obtido pelo jornal britânico The Guardian, indica que se as metas não subirem, o planeta ficará 3 graus mais quente até 2100.
De acordo com um relatório do governo britânico, o aumento significaria um adicional de 170 milhões de pessoas que sofreriam com inundações nas regiões costeiras e 500 milhões a mais passariam fome.
Para onde vai o dinheiro
Um dos principais papéis dos países ricos na conferência é garantir recursos financeiros para o processo de adaptação de países pobres à nova realidade climática. Durante 11 dias de discussões, muito se falou na necessidade de arrecadar esses fundos, mas pouco se falou em números. Ninguém quer pagar a conta.
Um aumento de 2 graus na temperatura da Terra, que já é inevitável, vai trazer duras consequências à humanidade. Novas doenças, secas, inundações e fome vão afetar, principalmente, os países mais pobres.
Para poder lidar com a situação, a ONU depende da ajuda das nações industrializadas para ajudar os locais mais afetados a se adequarem. Projetos de adaptação incluem, por exemplo, a construção de casas mais elevadas em áreas suscetíveis a inundações. Além da adaptação, o dinheiro do fundo climático da ONU será usado dos processos de mitigação, ou seja, como ajudar os países com menos recursos a desenvolver uma economia sustentável.
Sem dinheiro, é impossível que essas nações avancem no desenvolvimento de tecnologias limpas e contribuam para evitar o aquecimento global. É preciso que haja uma transferência dessa tecnologia, já dominada pelos países ricos, para que os países pobres também possam reduzir suas emissões de carbono.
Soluções como uso de energia solar e implementação de turbinas eólicas ainda estão distantes da realidade de muitos países, tanto pelo alto custo, quanto pela falta de conhecimento técnico e científico da população local.
Quando se fala em adaptação, a proposta é minimizar as consequências das mudanças climáticas, enquanto a mitigação foca diretamente nas causas do processo. Quanto maior o esforço na mitigação, menor a necessidade na adaptação. Porém, sem recursos, os dois processos estão condenados.
A oferta financeira dos Estados Unidos, apresentada ontem pela secretária americana de Estado, Hillary Clinton, trouxe ânimo para as negociações da COP-15. Os EUA vão contribuir com pelo menos 100 bilhões de dólares por ano, para ajudar nos processos contra as mudanças climáticas.
Hillary Clinton ressaltou, entretanto, que é preciso haver transparência sobre como esse dinheiro será usado.
O economista Felipe Bottini, da Green Modus Sustentabilidade, afirma que a preocupação dos países do Anexo I (desenvolvidos) sobre o destino dos recursos é compreensível, mas isso não anula a responsabilidade nem tira a culpa dos maiores poluidores.
“Esse não é um dinheiro que está sendo emprestado, é uma compensação pelos prejuízos que eles já causaram”, afirmou.
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