Domingo, 20 de abril de 2025
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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quinta-feira (27/03) que vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os tarifaços determinado pelo mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump.

“É importante que, em vez de tomar medidas unilaterais, ele pudesse conversar com os presidentes de outros países. No caso do Brasil, nós vamos recorrer à OMC [Organização Mundial do Comércio]”, afirmou Lula em uma coletiva de imprensa ao fim de uma visita oficial ao Japão.

O líder brasileiro disse ainda que caso a consulta ao órgão internacional não resulte em mudanças, Brasília vai “utilizar os instrumentos que tem”, ou seja “a reciprocidade”. “Vamos taxar os produtos norte-americanos”, acrescentou.

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O presidente voltou a lembrar que o fluxo comercial entre Brasil e EUA é ligeiramente favorável aos norte-americanos, e defendeu que as condições para o livre-comércio mundial prevaleçam.

“Não prevejo um resultado positivo dessa política de aumento de taxação de todos os produtos, de todos os países, estou preocupado porque, no fundo, o livre comércio está sendo prejudicado, o multilateralismo está sendo derrotado. Estou preocupado porque o presidente norte-americano não é xerife do mundo”, acrescentou Lula.

O presidente ainda comentou as tarifas de Trump contra carros importados que chegam aos Estados Unidos, anunciado na última quarta-feira (26/03). A medida passará a valer a partir de 2 de abril.

Lula afirmou que “o presidente Trump precisa medir as consequências dessas decisões”. “Se ele está pensando que tomando essa decisão de taxar tudo aquilo que os Estados Unidos importam [vai ajudar], eu acho que vai ser prejudicial aos Estados Unidos. Isso vai elevar o preço das coisas, e pode levar a uma inflação que ele ainda não está percebendo”, disse Lula.

“Os EUA importam muito carro japonês e tem muitas empresas japonesas produzindo carro lá. Eu, sinceramente, não vejo o benefício de aumentar em 25% os carros comprados do Japão. A única coisa que eu sei é que vai ficar mais caro para o povo norte-americano comprar. E esse mais caro pode resultar no aumento da inflação, e esse aumento da inflação pode significar aumento de juros, e aumento de juros pode significar contenção da economia”, acrescentou.

Tarifas de 25% sobre carros importados

Segundo Trump, as novas taxas contra carros e caminhões leves de fabricação estrangeira têm como objetivo incentivar as montadoras de automóveis a investir nos EUA. O republicano disse ainda que a medida é o “início da libertação da América” e classificou a ação como “muito modesta”.

“Caso as empresas produzam carros nos Estados Unidos, não haverá tarifas. Elas já estão procurando locais. Além disso, qualquer pessoa que comprar um carro fabricado nos EUA com financiamento poderá deduzir os juros na declaração de imposto de renda”, garantiu o mandatário norte-americano.

Trump argumentou que, com as taxas que serão impostas a partir do próximo mês, Washington arrecadará “entre US$ 600 milhões (R$ 3 bilhões) a US$ 1 trilhão (R$ 10 trilhões) ao longo de dois anos”.

Ainda não está claro se as peças automotivas serão excluídas do tarifaço de Trump, mas as taxas vão ser “adicionais às tarifas” já anunciadas por ele.

Além de comunicar a imposição de tarifas sobre carros não fabricados em solo norte-americano, o magnata garantiu que aplicará em breve taxas sobre produtos farmacêuticos importados e madeira.

Ricardo Stuckert / PR
“Não vejo o benefício de aumentar em 25% os carros comprados do Japão. Vai ficar mais caro para o povo norte-americano comprar”, disse Lula 

Após anunciar a tarifa, Trump voltou a ameaçar, nesta quinta-feira (27/03), o Canadá e a União Europeia, dois dos principais aliados de Washington no cenário internacional.

“Se a União Europeia trabalhar com o Canadá para prejudicar a economia dos EUA, tarifas de larga escala, muito maiores que as já planejadas, serão impostas a ambos para proteger o melhor amigo que cada um desses dois países já teve”, afirmou o magnata na rede social Truth.

A declaração faz referência a uma possível coordenação entre Ottawa e Bruxelas para reagir à guerra comercial deflagrada por Trump desde que voltou ao poder.

A UE e o Canadá já foram atingidos pelas tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados pelos EUA, e Trump também ameaçou taxar outros produtos europeus em 25%.

Além disso, prometeu impor uma alíquota de 200% contra bebidas alcoólicas se o bloco não desistir de uma cobrança de 50% contra o uísque norte-americano.

Resposta europeia e canadense

“Lamento que o governo norte-americano esteja jogando com o bom funcionamento do mercado global”, respondeu a vice-presidente da Comissão Europeia para Transição Justa, Teresa Ribera, acrescentando que o bloco também vai reagir às tarifas contra o setor automotivo.

Já o Canadá, por meio do primeiro-ministro, Mark Carney, chamou as tarifas de 25% impostas ao setor automotivo pelo governo Trump de ” ataque direto” ao seu país.

Carney acrescentou que o país agirá de forma unificada e que, embora as tarifas prejudiquem a economia canadense, ele considerará medidas não tarifárias contra os Estados Unidos.

“Defenderemos nossos trabalhadores, nossas empresas, nosso país. E o defenderemos juntos. Os Estados Unidos estão divididos e isso é debilitante”, disse o governante.

Além de suas próprias tarifas retaliatórias, Carney garantiu que o Canadá “tem outras opções” que serão discutidas internamente pelo governo.

Enquanto isso, o presidente do governo provincial de Ontário, Doug Ford, onde estão localizadas as fábricas de automóveis do Canadá, declarou que está tentando causar “o máximo de dor possível” aos norte-americanos para convencer Trump a eliminar as tarifas sobre o setor.

Ford, que anteriormente aumentou o preço da eletricidade que sua província vende para os EUA e até mesmo pediu um embargo energético ao país vizinho, disse que o Canadá tem duas opções: “podemos nos encolher como país e sermos atropelados até que (Trump) consiga o que quer, ou podemos sentir um pouco a dor e lutar como nunca antes”.

“Eu prefiro a última alternativa. Acredito na luta e teremos um grande impacto no povo americano”, acrescentou o líder provincial, que é um político conservador e se autoproclamou apoiador de Trump durante a campanha presidencial dos EUA.

(*) Com Ansa, Agência Brasil e TeleSUR