Menos disputas comerciais e mais integração: é basicamente essa mensagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua colega argentina, Cristina Kirchner, tentaram transmitir após encontro promovido em Buenos Aires. Na reunião, a terceira organizada no marco do Mecanismo de Integração e Cooperação Brasil-Argentina (MICBA), criado no fim de 2007, os chefes de estado procuraram minimizar a importância das disputas comerciais.
Ambos negaram que as medidas que cada país aplica para proteger seu comércio diante da crise internacional afetam a integração regional. “Não há nenhuma contradição. É normal que todos os países tenham certa prevenção, sobretudo se forem levados em conta a queda nas exportações e o crescimento do desemprego”, disse Lula ao final do encontro, ontem (23).
Protecionismo mais amplo
Segundo Cristina, “a crise nos obriga a dar repostas concretas aos trabalhadores”. Ela se referia às medidas que adotou para proteger a produção local e dificultar a entrada de produtos estrangeiros, principalmente asiáticos, mas que também incluiu brasileiros.
Em março, pela primeira vez desde o final de 2003, a balança comercial entre os dois países fechou com superávit para a Argentina, gerando protestos dos empresários brasileiros. Em represália, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) propôs a imposição de restrições a produtos argentinos.
Para a presidente da Argentina, “o protecionismo é algo mais amplo que uma simples questão alfandegária”. Ela fazia alusão à desvalorização da moeda brasileira em relação ao peso argentino desde o começo da crise econômica mundial. Muitos empresários argentinos consideram que a ajuda dada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aos brasileiros também constitui um mecanismo de protecionismo.
“Dono do próprio nariz”
Além de reiterar o apoio político do Brasil ao governo argentino, o presidente Lula garantiu a disponibilidade de toda a energia elétrica que os argentinos necessitem para passar o inverno sem perigo de apagão.
Ele demonstrou também uma posição alinhada com a da presidente da Argentina em relação à intervenção dos países desenvolvidos e dos organismos internacionais em assuntos internos.
“As pessoas têm que parar de tratar a América Latina, a Argentina e o Brasil como tratavam na década de 1990, quando qualquer um que vinha do norte dizia o que tínhamos que fazer e que política fiscal tínhamos que adotar”, declarou o presidente no almoço oferecido à delegação brasileira no Palácio San Martin, sede da chancelaria argentina.
“Agora começam a dizer quanto o Brasil vai crescer, quanto a Argentina vai crescer. Não quero ser desrespeitoso, mas o Brasil só deu certo quando foi dono de seu nariz”, acrescentou. Na quarta-feira, o FMI (Fundo Monetário Internacional) havia divulgado um relatório em que previa que o Brasil terá uma contração de 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2008, e de 1,5% na Argentina.
Os presidentes anunciaram que pedirão conjuntamente que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) seja incluída nos debates do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países mais ricos e principais emergentes). “No G20, escutamos os representantes do FMI, do Banco Mundial e das Nações Unidas, e achamos que é muito importante que se inclua um organismo como a OIT, onde estão representados os trabalhadores, que são as primeiras vítimas da crise”, explicou Cristina.
Decisões
A declaração final do encontro ressalta a vontade bilateral de aprofundar a integração regional, destacando a colaboração entre a indústria aeronáutica brasileira e a fábrica de aviões de Córdoba, localizada no centro da Argentina. O texto menciona os avanços da Aerolíneas Argentinas para comprar 20 aviões da Embraer com financiamento do BNDES.
Paralelamente à reunião dos presidentes, os bancos centrais dos dois países decidiram ampliar de 120 milhões de dólares para 1,5 bilhão de dólares o limite de operações de comércio exterior garantidas pelo Convênio de Crédito Recíproco (CCR) entre os dois países.
Anunciaram também a expansão do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) para outras operações como o pagamento na compra e venda de energia elétrica e de benefícios previdenciários.
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